Por: José
Mendes Pereira
Na década de
40, para quem não dispunha de recursos, as dificuldades eram
assustadoras, onde a maioria dos moradores de sítios vivia trabalhando com
exclusividade para o seu patrão, no intuito de adquirir o pão de cada dia, como
diz o sertanejo.
Pedro Nél Pereira
No ano de 1941, do século passado, o meu pai Pedro Nél Pereira ainda vivia sobre as regras do meu avô, e logo que se casou, continuou morando nas terras de
Chico Duarte - Fazendeiro
Francisco Duarte, conhecido por Chico Duarte, o legítimo pai de Manoel Duarte, o homem que no dia 13 de junho de 1927, conseguiu balear em Mossoró o afamado e perigoso cangaceiro Jararaca, no momento da tentativa de invasão à cidade, comandada por Lampião.
Lampião
Posteriormente Chico Duarte faleceu, e a sua enorme propriedade foi dividida com os herdeiros, sendo que o meu pai passou a ser morador de Manoel Duarte, mas permanecendo na mesma casa em que morava.
Manoel Duarte - baleou o cangaceiro Jararaca
Os tempos foram se passando e com as suas economias meu pai comprou uma parte da herança de Luiz Duarte, vulgarmente chamado Lili Duarte, irmão de Manoel Duarte.
Nesta propriedade o meu pai dedicou-se por completo à agricultura, e uma criação de bodes, ovelhas, mais meia dúzia de gado.
Manoel Louredo um senhor que morava às margens do rio Mossoró, sentindo-se sem condições de dar de comer à sua numerosa família, pediu ao meu pai que o deixasse tirar lenha na sua propriedade, pois no momento as necessidades em sua casa eram de lástimas, e que tirando lenha, venderia pelas ruas de Mossoró, para comprar o necessário para sua família.
Meu pai, piedoso, e ciente do que havia passado em terras alheias, concedeu-lhe o pedido, mas lhe dizendo que cortasse só as árvores mortas, e as que estavam vivas não as derrubasse.
Pedidos feitos, pedidos cumpridos de ambas as partes.
Duas vezes por semana, mais ou menos, às seis horas da manhã, Manoel Louredo passava na residência do meu pai; tomava uma xícara de café, e se mandava para o mato. À tardinha ele estava de volta com a carroça lotada de madeira seca. Tomava mais um cafezinho e tangia o animal em busca de Mossoró. Essa atividade de Manoel Louredo durou mais de três meses, até que certa tarde ele foi flagrado levando cabras entre à lenha.
O que ele fazia?
A criação
costumava ruminar nas imediações onde ele tirava a lenha. Ali, ele deu início a
viciá-la com milho e pedaços de pão seco de padaria. Pegava um animal, o
anestesiava, colocava sob a lenha, protegido por toros atravessados, como se
fosse um banco, para não prensar o animal. Na frente e na parte traseira da
carroça enchia com pequenos pedaços de lenha, para dar impressão que os toros
eram diretos, isto é, de uma ponta a outra.
Certo dia pegara uma cabra acompanhada de um cabrito. Anestesiou-a, e o pouco que sobrara
na seringa, injetou no cabrito. Arrumou-os bem direitinho sobre o lastro da
carroça, cuidadosamente colocou os toros por cima dos animais, e deu partida
para ir embora.
Como do
costume, passou na casa do meu pai; tomou um cafezinho, e quando se preparava
para partir em direção a sua casa, o cabrito acordou do sono e tome berro entre
a lenha.
- Mas o que
significa isso, seu Manoel Louredo? – perguntou-lhe meu pai.
- Não sei! Não
sei! – respondeu ele timidamente e já com as pernas tremendo.
Logo o meu pai
esvaziou a carroça, e lá estava o roubo do seu Louredo. A cabra gozava de um
enorme sono, e o cabrito estava se recuperando da anestesia. Apenas cambaleava
entre a lenha.
-
Interessante, seu Louredo! Eu tentando lhe ajudar. O senhor está roubando
as minhas cabrinhas..., o senhor retire a lenha de cima da carroça e a
arrume aí,... os viventes o senhor os leve para sua casa.
- Mas não são
meus, seu Pedro! - disse ele em tom de exclamação.
- E de quem são, seu Louredo? – perguntou-lhe meu pai.
- São do
senhor, seu Pedro!
- Eram meus,
realmente..., mas a partir da hora em que o senhor os colocou sobre sua
carroça, que eu não os havia lhe dado, já passaram a ser roubo. E aqui eu não
costumo esconder roubo de ninguém. Nem meu se eu roubasse. O senhor vá embora e
nunca mais ponha os seus pés na minha propriedade. Mas tem que levar o seu
roubo.
Seu Louredo
foi obrigado a levá-los, já que o meu pai não os queria mais em suas terras.
Alguns
vizinhos presentes queriam que o meu pai o levasse até a delegacia, em Mossoró.
Mas ele os convenceu que cadeia não resolve mal costume de ninguém. Quem
tem força para acabar de uma vez por toda esse ridículo costume, é o
larápio, que crie vergonha e não mexa mais em nada de ninguém.
Seu Louredo
morreu de velho quando morava nas imediações da Ilha de Santa Luzia, bem
próximo ao centro da cidade de Mossoró. Nunca mais ninguém ouviu falar de
outros furtos praticados pelo velho Louredo.
Minhas Simples Histórias
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Fonte:
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