Por: José Mendes Pereira
João
Tubiba era mossoroense, mas a sua casa era o seu chapéu. Vivia exclusivamente à
custa dos seus familiares e de alguns amigos. Nunca fora homem do trabalho,
apenas levara a vida fazendo pequenos mandados, levando dos outros alguns
recados e objetos daqui para ali. Uma de suas manias era acompanhar defuntos
até ao Cemitério São Sebastião em Mossoró. E muitas vezes, nem conhecia a
família do morto. O seu desejo era acompanhá-lo até à cova, e lá, fazer o que ele
mais gostava. A primeira jogada de barro sobre o morto, tinha que ser feita por
ele. Isso era o seu maior desejo.
Geralmente,
no velório, João Tubiba servia para pernoitar ali diante do morto, enquanto os
familiares procuravam descansar um pouco. Várias vezes ele fora solicitado para
esta finalidade.
Mas
alguns afirmavam que aquele desejo do João Tubiba permanecer em velórios, era
interesse, talvez para ganhar um trocadinho da família. Se era ou se não era, o
João Tubiba estava em todos os velórios e enterros.
Certa
noite, enquanto permanecia pastorando um defunto, e já que naquele momento
estava só, João Tubiba aproximou-se do caixão, levantou um pano que cobria o
sem vida, e lá viu, que em matéria de sapatos, o defunto estava muito bem
obrigado.
Vendo
que era um desperdício, e dos maiores, já que aquele par de sapatos iria ser
enterrado juntamente com o falecido, e rapidamente fez a troca que ora
imaginava.
Como
ninguém ali jamais imaginaria que alguém teria coragem de carregar os sapatos
do morto, ele permaneceu a noite toda no velório, com sapatos novos e luxuosos
em seus pés.
No
dia seguinte, no momento de colocar o caixão dentro da cova, a viúva que
desesperadamente chorava ao lado do caixão, pediu que queria ver o seu ente
querido pela última vez, abrissem o caixão para as suas últimas despedidas, e
de imediato, ela percebeu que o seu ex-marido estava com sapatos velhos. Mas
como era um momento triste, ela só levou a conversa adiante, depois de alguns
dias.
A
partir deste dia, o João Tubiba deixou de participar de velórios, já que o seu
interesse era furtar os defuntos. João Tubiba era ladrão de defuntos.
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José Mendes Pereira
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