Por: José Mendes Pereira
Nesse período
em que isto me aconteceu eu ainda não era interno da Casa de Menores Mário
Negócio, e vivia sobre as ordens do meu pai, na sua minúscula propriedade,
denominada "Sítio São Francisco", a uma distância da cidade de
Mossoró mais ou menos 9 quilômetros.
Eu ali vivia
correndo pelos campos, no meio das carnaubeiras, plantando e colhendo milho,
feijão, melancias, jerimuns, empilhando palhas da
carnaubeira, cuidando dos nossos animais, carregando água sobre o meu
lombo ou sobre o lombo de jumentos.
Antonio
Mendes, meu tio e meu pai Pedro Nél Pereira
Como vivia em
terras alheias, o meu pai Pedro Nél Pereira fez economias, e anos depois
comprou uma pequena propriedade de um senhor chamado Luiz Duarte,
Manoel Duarte
Ferreira - assassinou o cangaceiro Colchete
irmão de
Manoel Duarte Ferreira, este já é do conhecimento do leitor, um dos que
resistiu aos desrespeitos à Mossoró, feito por Virgulino Ferreira da
Silva, o afamado e sanguinário cangaceiro Lampião.
Dona Chiquinha
Duarte era madrasta do Lili e do Manoel Duarte, e que era uma das
maiores proprietárias de terras de Mossoró, e nela, tanto os meus pais,
tios, meus irmãos e eu, nascemos lá.
Dona Chiquinha
Duarte - blogdomendesemendes.blogspot.com
Sendo ela uma senhora que tinha prazer em ver os filhos dos seus moradores
estudando e progredindo, e como eu fabricava gaiolas, aviões, revólveres e carrinhos
de madeira, aconselhava-me que eu deveria cuidar de fazer outras miniaturas, e
levá-las até à feira de Mossoró. Mas como eu não tinha conhecimento de
comércio, nunca sair de lá para vender os meus inventos na feira, exceto
canários, graúnas, periquitos que eu os roubava da natureza.
O meu pai era
leiloeiro, e em Outubro de cada mês realizava a festa de São Francisco, com
leilões e forró de pé de serra, até ao amanhecer do dia. E com os lucros das
festas construiu a capela de São Francisco em sua propriedade.
São Francisco de Assis - protetor dos pássaros - horacosmica.blogspot.com
Estava
para acontecer um leilão e eu sonhava em possuir um relógio "grão
duque", sendo que já era conhecido no comércio por um excelente marcador
de horas. E como as comemorações do São Francisco estavam em dias de
acontecerem, idealizei vender refresco de tamarindo durante a festa, para
angariar dinheiro, e com o valor apurado, eu faria a compra desse tal relógio
grão duque.
Os
ingredientes do refresco eram: a água, o tamarineiro, sendo que estes dois não
seriam necessário comprá-los, principalmente o tamarindo, porque os
tamarineiros haviam produzido seus frutos em abundância.
Tamarineiro
Como eu não
tinha dinheiro para comprar o açúcar solicitei da fazendeira, que me
emprestasse o valor necessário para pagar por 15 quilos de açúcar, e no dia
seguinte, após o leilão, acertaria a minha dívida com ela, que com certeza a
venda iria atingir o esperado.
Chega a noite festiva. Pouco tempo o leilão iniciou, e lá eu estava ao redor do botequim, bem vestido e bem calçado, esperando os futuros fregueses do meu novo invento. Eu havia feito três latas de refresco, cada uma com 18 litros, mas ainda achando que deveria ter feito mais refresco, já que era uma noite de festa.
www.mmbtintas.com.br
A noite foi se passando e ninguém me solicitava um copo de refresco, e sabendo que se eu não o oferecesse ninguém iria comprar, passei a fazer oferta do meu produto. Eu estava vizinho ao botequim, onde o dinheiro caía mais, e quando um sujeito vinha beber pingas, cervejas.., eu lhe oferecia a minha mercadoria. Mas as respostas eram desagradáveis, que não iria beber refresco, principalmente à noite, coisa de criança, e sim cachaça, cerveja, conhaque...
Só sei que perdi o meu tempo, e nesta noite não vendi a dinheiro um copo sequer, salvo três copos fiados a um vizinho nosso, que me prometeu que no dia seguinte me pagaria. Infelizmente ele morreu e não me pagou.
O dinheiro que eu havia tomado emprestado à fazendeira ela dispensou, dizendo-me que sabia que refresco de tamarindo, principalmente em noite de festas, seria muito difícil a procura.
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Fonte:
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Autor:
José Mendes
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