terça-feira, 15 de outubro de 2013

Seu Tibúrcio Soares - Um antigo comerciante de Mossoró

Por: José Mendes Pereira
José Mendes Pereira

Tibúrcio Soares era um dos mais antigos comerciantes de Mossoró, com a sua loja estabelecida no bairro Paraíba, no cruzamento da Rua Felipe Camarão, com a Rua Tiradentes, onde nos dias de hoje, funciona a “Loja do Papai”. Era alto, não tão magro, de cor branca, prestativo, educadíssimo, e gostava de separar moedas para doar aos que lhe pediam uma ajuda.

Seu Tibúrcio Soares - foi um grande comerciante de Mossoró, e o conheci muito 

No comércio, seu Tibúrcio Soares vendia de tudo, desde cereais, bebidas em grosso e em doses, cabos para todas as ferramentas, vassouras, esteiras fabricadas com palhas da carnaubeira, alpargatas de couro cru, fumo, rapaduras, cangalhas, e mais algumas ferramentas como: enxadas, foices, machados, martelos, alicates, colheres para pedreiros, prumos, níveis, esquadros, linhas para tarrafas, cordas...

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Devido a confiança que empregava às pessoas, seu Tibúrcio fora diversas vezes roubado por  alguns dos seus fornecedores. Mas mesmo sendo ludibriado, deixava isso para lá, apenas ficava de orelhas em pés, para que isso não se repetisse. Muitos desses que lhe forneciam mercadorias, não lhe entregavam os pedidos com a quantidade comprada.

Gregório das Esteiras como era conhecido neste ramo de negócio, por só vender esteiras; sabendo que alguns dos fornecedores do seu Tibúrcio andavam faltando com a sua responsabilidade, resolveu também entrar nessa, de não entregar a sua mercadoria de acordo com o que lhe vendera. “-Se os outros andam enganando seu Tibúrcio, eu também vou lhe enganar”.

E aconteceu que na primeira tentativa de enrolar seu Tibúrcio, o Gregório foi logo pego, porque chegou em uma oficina de um dos seus amigos, para consertar uma câmara da sua carroça, e como batia muito com a língua, contou para ele que havia vendido ao seu Tibúrcio dez rolos de esteiras, cada um com 10 esteiras, mas só havia colocado no monte oito rolos. Já que ele não havia notado, iria às pressas voltar até lá, para lhe vender novamente os outros dois.

Mas o Gregório não sabia que bem próximo a ele tinha um amigo do seu Tibúrcio, que ao ouvir a conversa, montou-se em sua velha e desmoronada bicicleta, e foi contar ao comerciante.

Chegando ao comércio do seu Tibúrcio o sujeito repassou-lhe o que havia ouvido do seu fornecedor, e tomando conhecimento disto, ele o agradeceu e ficou aguardando o Gregório, que até antes, o comerciante o tinha como um homem de confiança.

Seu Tibúrcio chamou o seu ajudante, e mandou que ele contasse os rolos de esteiras que havia comprado ao Gregório, e segundo o ajudante, só tinha oito rolos de esteiras.

 

Uma hora depois, o Gregório espirrou na porta do comerciante. E ao descer da carroça, entrou e foi logo dizendo:

- Seu Tibúrcio, eu tenho dois rolos de esteiras...

- Eu sabia! - Atalhou seu Tibúrcio - Eu sabia!

O Gregório quis se espantar um pouco, perguntando-lhe:

- Seu Tibúrcio, sabia o quê?

- Eu sabia que o senhor esquecera-se de colocar os outros dois rolos de esteiras ali. Isso é que eu chamo homem de confiança. Vi que só tinha oito rolos, mas eu tinha real certeza, que o senhor voltaria para me entregar os outros dois rolos de esteiras que se esqueceu.

O Gregório não sabia que seu Tibúrcio sabia da sua desonestidade. E olhando para ele disse:

- Seu Tibúrcio, nesta minha munheca, homem nenhum há de pegar nela um dia. O que é meu é meu. Mas o que é dos outros, é dos outros. E eu não sou e nem serei capaz disto.

- Eu sei disso, seu Gregório! – Falava seu Tibúrcio. Eu sei que tem muitos dos meus fornecedores honestos. E o senhor é um deles. Mas assim do seu tipo, é muito difícil. Voltar até aqui, para me entregar dois rolos de esteiras que se esqueceu de colocar no monte, é coisa para homem honesto mesmo. - Dizia seu Tibúrcio incentivando-o a ser honesto.

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Autor:
José Mendes Pereira

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Existe filho que tem o pai como um troço qualquer

Por José Mendes Pereira
José Mendes Pereira

Existe filho que tem o pai como um troço qualquer, não o respeita, não o zela, não lhe pede a bênção, não procura conversar com ele, não o obedece, não faz nada em seu favor, afinal, para ele é apenas um sujeito que o colocou no mundo, e quando o pai cai doente, para ele, o bom seria que aquele troço velho e inútil dentro de casa morresse.

Mas isso não só acontece na classe pobre, atinge todas as classes sociais. E se o pai é um grande empresário, aí sim, o desejo da sua morte é exigido até através de rezas, que aquele inútil passe logo para outra dimensão. Mas ainda existem filhos bons, que estão sempre acompanhando os cabelos brancos do seu velho pai.

Nos anos setenta, eu residia no bairro Bom Jardim, zona Norte de Mossoró, à Rua Juvenal Lamartine, e foi lá que todos os dias e todas as noites eu presenciava o sofrimento do seu Leocádio, um ex-comerciante de secos e molhados, talvez, não sei,  já passava dos oitenta anos vividos, e tinha problemas prostáticos (uretra), e era cuidado, entre aspas, por um dos seus filhos, o Chico, que mesmo ouvindo o seu pedido a Deus para fazer desaparecer aquelas terríveis dores, o filho fazia com que o sofrimento do seu pai continuasse mais ainda.

Os gritos, as lamentações, os pedidos de perdão, o arrependimento de ter vindo ao mundo, o desejo que Deus o levasse logo, as inquietações  sobre a cama, causadas pelas dores que lhe perseguiam, tudo isso  era chocante, principalmente  para quem assistia aquilo pela primeira vez. "- Meu grandioso pai celestial, o que fiz de errado para sofrer tanto antes da minha morte?". 

Naqueles tempos a medicina apenas acompanhava o paciente prostático, com alguns medicamentos recém-inventados, no sentido de prolongar a vida do paciente ou o seu sofrimento.

A colaboração que o Chico dava ao sofrimento do velho pai era de não extrair a urina no momento em que o velho começava a reclamar das dores que lhe atacavam, e ele pedia a ajuda ao filho, porque a sua bexiga já estava cheia de urina, e não suportava mais. 


Bexiga cheia, já incomodando, lá pelo o quarto, o velho Leocádio metia o grito, para que o Chico fosse extrair a urina da sua bexiga.

- Ou Chico meu filho, vem tirar a urina do teu pai que já não aguenta mais tantas dores!

E lá de dentro respondia o Chico:

- Calma, velho, Calma! Eu já estou indo!

Daí a pouco as dores começavam a incomodá-lo mais ainda. E tornava a chamar o filho com mais precisão:

- Vem logo meu filho, o teu pai está se acabando com dores.

E o Chico respondia-lhe usando as mesmas palavras: 

- Calma, velho! Calma! Eu já estou indo para retirar a urina. 

E com este consolo "Calma, velho! Calma! Eu já estou indo!", levava um bom tempo para socorrer o pai.

Quando o pai solicitava a sua presença, e se Chico o atendesse sem demora, com certeza levaria um bom tempo para que o velho permanecesse sem dores.

Mas uma vez o velho Leocádio pedia a presença do filho, pois estava se acabando com dores.

Agora sim, o Chico dava início ao trabalho da extração da urina no velho, e assim que terminava a cirurgia caseira, perguntava-lhe:

- As dores já passaram meu velho?

Aliviado, o velho Leocádio respondia-lhe:

- Graças ao meu grande Deus, meu filho! As terríveis dores foram para os quintos dos infernos.

O Chico querendo criticar um pouco do pai, já que quem cuidava bem ou mal dele era ele, perguntava-lhe:

- Quem pode mais do que Deus, Velho?

Não tendo outra solução, que realmente naquele momento fora aliviado das dores através dele, respondia-lhe como um agradecimento:

- É você, meu filho Chico!

Durante muitos anos perdi o contato com o Chico, que na época já passava dos cinquenta. Mas tive notícias que ele morreu rodeado de dores, assim como o seu velho pai.

Quem maltrata pai um dia será maltratado por outros também. Pai é pai. É aquele que desde o nascimento do filho que batalha por alimento, saúde, roupas e ai daquele que tentar botar a mão maligna sobre o filho. E quando o filho cresce, maltrata-o de todas as formas.


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