Por: José Mendes Pereira
As vacas
leiteiras já estavam presas ao curral, e a bezerrada corria no enorme campo em
frente à fazenda do seu Galdino. A bicharada miúda ainda se encontrava fora dos
chiqueiros.
Seu Galdino
apoderou-se de uma bacia, pôs água e caminhou para o alpendre, dando início a
uma geral limpeza nos seus pés sujos de barro avermelhado.
Lá dentro do
casarão Dona Dionísia cuidava do jantar, fabricando umas pamonhas do milho verde
que seu Galdino quebrara no seu roçado.
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Montado em um cavalo aproximava-se do casarão um homem em disparada carreira. Era o seu
Leodoro, que tangia uma novilha do seu rebanho mascarada. E ao pisar no
terreiro da fazenda do seu Galdino, ela tomou rumo á sua propriedade. E ali ele resolveu dar um dedinho de conversa com o seu compadre.
- Vem a
trazendo de onde compadre Leodoro, esta sua novilha? - Perguntou seu Galdino.
- De muito
longe, meu compadre! – Respondeu seu Leodoro. Ela havia desaparecido da minha vista, e informaram-me
que ela estava amoitada nos fundos das terras de seu Chico Néo.
Com medo que ela
passasse para a Favela, devido às cercas não serem boas, fui obrigado campeá-la
com urgência.
- Andei muito
naquelas matas, compadre! – falava seu Galdino - ali eu conheço metro por metro,
quando eu procurava abelhas, e até mesmo quando eu campeava bois bravos..., e
certa vez eu fui surpreendido por uma onça branca naqueles atoleiros.
- Sim senhor!
– fez seu Leodoro.
- Eu tinha
saído acompanhado com o vaqueiro de seu Zé Reis, o Solon. Para mim compadre, não
existiu, Deus o tenha em um bom lugar, um homem mais corajoso do que aquele.
Quando ele perseguia uma rês, ou a derrubava montado no seu cavalo, ou a pegava
a pé, isto na carreira, e pouco tempo o homem estava com a bicha mascarada. O bicho era um verdadeiro animal. Nasceu para ser pegador de gado.
- Eu não o
conheci, mas tive informação da bravura desse vaqueiro afamado por estas terras.
– Disse seu Leodoro reforçando o que dissera seu Galdino.
- Pois sim, ele precisava chegar cedo em casa, porque estava negociando uns novilhos para o
corte, e não querendo voltar com ele, fiquei na mata, tentando pegar um touro
da irmã Aparecida, filha de Chico Duarte.
Irmã Aparecida
- Já lá para às dez horas do dia, continuava seu Galdino, passando entre uns riachos que nascem no Pai Antonio, propriedade de Francisco
Souto, vi um branco, como se fosse algodão. Querendo ter a certeza o que seria
aquilo, aproximei-me.
Francisco Souto - unicredmossoro.blogspot.com
- O senhor
estava a pé? – Perguntou seu Leodoro.
- Não
senhor. Eu estava montado no cavalo..., e olhando cuidadosamente, vi que era uma
onça branca, que ainda dormia. Mas o cavalo impaciente, ficou bufando, e com
isso fez com que o felino acordasse. E vendo que nós estávamos invadindo o seu
território, levantou-se e partiu para cima da gente.
- Meu Deus!
Que perigo, hein compadre? – Lamentou se Leodoro.
- O cavalo
ficou se pisando todo, e a danada partia para cima de
nós com gosto de gás, e dava cada esturro que os meus cabelos arrepiaram-se
todos. Em um momento, eu vendo que a danada tinha força para me vencer, se eu
ficasse em cima do cavalo, resolvi descer e enfrentá-la com o meu chicote três
pernas, um dos melhores que já comprei até hoje..., pois bem, aí compadre, foi quando eu vi que eu sou mesmo corajoso. Desci do cavalo e fui lutar contra a onça. E com o meu chicote, tome peia, e
tome peia. Eu só batia por cima dos seus olhos, porque eu estava
tentando cegá-la. A minha intenção era matá-la de peia... mas ela não queria abri não senhor! A nossa luta foi grande, e eu calculo que durou de 50 minutos a uma hora.
- Que onça
valente, hein compadre!? – Atalhou seu Leodoro.
- E bote
valente nisso, compadre Leodoro..., tiveram momentos que ela vinha para cima de
mim, e eu recuava, mas eu fazia o mesmo. Eu ia para cima dela com o chicote em
uma das mãos, e logo ela estava recuando. Foi uma luta que nunca tinha
acontecido comigo. A bicha era escaldada, calculista, e me parece que já era
veterana em atacar humanos, porque ela fazia tudo àquilo como se fosse uma
verdadeira guerreira.
- E o cavalo
compadre, onde ele permanecia no momento da luta do senhor como a onça?
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- Só olhando. Mas eu vi que
ele ficou parado, esperando uma oportunidade para atacá-la, ali, ele já estava ciscando o chão, mas de olho nela. Talvez imaginando que se ela de uma forma ou de
outra me abocanhasse, isto é, me atingisse com seus caninos, ele iria fazer qualquer coisa em meu favor.
- Cavalo que
quer bem ao seu dono compadre, o defende mesmo na hora do perigo.
- É Verdade compadre! É Verdade! A onça levou boas chicotadas dadas por mim. Mas em um momento ela
tentou resolver a nossa luta de uma vez por toda. Partiu para me agarrar pelo
pescoço. Mas o cavalo que já pressentia que ela iria mesmo me matar, deu-lhe uma
cabeçada tão grande, mas tão grande, pegando por baixo do vazio, jogando-a longe,
e acredito que ela caiu com uns dez metros de distância, longe de mim.
Ao cair e ao se levantar, saiu grunhindo de mata adentro. Ou onça lutadora!
- Graças ao
seu cavalo, compadre! – Fez seu Leodoro.
Sim senhor! Se
não fosse o meu cavalo eu hoje estaria enterrado lá no cemitério.
- É, compadre,
a conversa está boa, mesmo assim eu tenho que ir embora. Preciso alimentar aquela
novilha. Eu sei que a Gertrudes já a trancou. Mas ainda tenho que separar os
bezerros das vacas.
E montando no
seu cavalo, disse:
- Até amanhã,
compadre!
Despediu-se
seu Leodoro com um sorriso meio duvidoso, da conversa do seu Galdino, sobre a
onça branca.
Seu Galdino repetiu a saudação do seu compadre, e ficou resmungando baixinho:
- Eu sei que a Gertrudes já trancou a novilha, e eu qualquer dia irei trancá-la dentro do seu quarto, e alimentá-la com o meu perverso gavião.
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Autor:
José Mendes Pereira
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