sábado, 27 de julho de 2013

JÁ MORREU! - PARTE I

Por José Mendes Pereira
José Mendes Pereira

"Já morreu" era um senhor que morou muitos anos no Conjunto Walfredo Gurgel, na antiga COHAB; de voz grossa, alto, poucos dente naturais, magro, e  astucioso ao estremo. Devido as palhaçadas que fazia, fora apelidado de "Já morreu", pelos seus próprios amigos. E para falar a verdade, ele fora morto 4 vezes, mas eram invenções dos companheiros, que vez por outra, saía a notícia do seu falecimento.

Salinas - www.flickr.com

Era obcecado por bebidas alcoólica, principalmente a Pitú, que era um dos seus pratos preferidos. O seu verdadeiro nome era Antonio, informara-me certa vez quando este era vizinho da minha irmã, mas deixou para trás o seu sobrenome. 

Foi empregado da firma SOSAL, por muitos anos, e posteriormente resolveu aliar-se a uma firma em Mossoró, evitando o seu deslocamento todas as manhãs para a cidade de Areia Branca, onde é lá que funciona a empresa que antes trabalhava.

Ao sair da salina, recebeu uma boa indenização, e como ele era dependente do cigarro e da bebida, e gostava das farras, das bebedeiras nos bares, meio mulherengo, de pernoitar em casas de jogos..., e sabendo que se aquele monte de dinheiro ficasse em suas mãos, seriam poucos dias para devorá-lo nesses lugares. Temendo gastá-lo, resolveu entregá-lo a esposa, garantindo-lhe que iria comprar um Passat, Zero Km, porque este era o automóvel de sua preferência.

Passat - http://www.pedropedreiro.com

A esposa achava que "Já Morreu" havia mudado o sistema de vida, e até imaginava que ele andava meio adoentado, devido a mudança de vez, entregando-lhe todo dinheiro que havia recebido em suas mãos, coisa que ele só fazia isto, quando ela  o solicitava para feira, roupas etc...

Ao anoitecer, estava em casa, vendo o Jornal Nacional. Já fazia muitos anos que ele não grudava os olhos em uma televisão. De olhos na tela, vez  por outra mudava o canal, na intensão de encontrar um programa melhor, um filme ou outra coisa semelhante. Mas ali, permaneceu até que o sono lhe veio. Sonolento, caminhou para o quarto. Lá, armou a rede, deitou-se e minutos depois roncava como um porco.

Lá pras tantas, acordou, e ficou imaginando que deveria está nos bares, nas farras, nas casas de jogos, e por sua culpa, sua máxima culpa, agora  estava se sentindo um verdeiro prisioneiro, pois fazia meses que não pernoitava em casa, só depois das 12, 1 hora da madrugada.

Passou o resto da noite passeando da sala para cozinha, só fumando, fumando..., estruturando o que iria fazer no dia seguinte, sem dinheiro, sem poder ir às casas de jogos, tomar umas biritas. Pensou em pedir o seu dinheiro de volta, mas sabia que a esposa não iria lhe devolver de jeito nenhum. Isso ele sabia bem, pois quando ela pegava no seu dinheiro, não lhe devolveria mais. Com pouca quantia, ela não lhe devolvia, e principalmente dinheiro que dava para comprar até um carro Zero Km.


www.viomundo.com.br

Pela manhã, bem cedo,  tomou um banho, vestiu-se e caminhou até a banca de carne do Luizinho, filho de Chico de Idalino. Como ele conduzia uma faca enfiada à cintura, disse-lhe:

- Luizinho, deixe eu dá uma facada neste fígado.

- Uma facada no fígado,  você enlouqueceu? - Fez Luizinho.

- Eu não enlouqueci de jeito nenhum. Mas se você não deixar eu pipinar este fígado de facadas, eu vou furar o que estiver mais próximo de mim.

Naquele momento, a pessoa que estava mais próxima dele era o próprio Luizinho.

Temendo ser esfaqueado por ele, disse-lhe:

- Está certo, faça as suas vontades. Mas por favor, ao terminar, vá embora, porque a minha freguesia irá ficar com medo de você, já que você está  com esta faca nas mãos, prometendo esfaquear alguém.

E logo "Já Morreu" deu início à sua maldade, deixando a faca toda avermelhada de sangue.

Ao terminar a sua maldade, colocou a faca na bainha e se mandou para casa.

Ao chegar, gritou pela mulher que estava nos afazeres. E lá se veio a inocente, bem tranquila e feliz, porque "Ja Morreu" havia dormido em casa à noite anterior.

E ao vê-la disse-lhe:

- Mulher, eu dei uma facada num sujeito agora mesmo, e acho que ele vai morrer. Vais buscar o dinheiro logo, pois  eu preciso me esconder e contratar uma advogado para a polícia não me prender. 

A mulher deu início a um choro constrangedor.

- Calma mulher! Calma! Fique calada para a vizinhança não tomar conhecimento. Vai logo, dizia ele se fazendo de nervoso.

Mesma chorando, ela perguntou quanto ele queria.

- Todo dinheiro, mulher! Acredito que o que o advogado irá me pedir, este que nós temos, será pouco para resolver este problema.

Se às pressas ela foi lá dentro, muito mais às pressas ela retornou, trazendo em suas mãos o  monte de dinheiro, que iria ser para a compra do automóvel.

Entregando-lhe em suas mãos, o valor, exigiu que ele fosse se esconder em qualquer lugar, não ficasse dentro de Mossoró.

Assim que "Já Morreu" partiu, ela bateu porta, e quando alguém lhe chamava, ela não respondia, já com medo de uma possível vingança feita pelos parentes da vítima.

À tardinha, recebeu a visita de um irmão, mas colocando-o para dentro de casa às pressas, e de imediato bateu a porta.

- Você já sabe o que aconteceu com Antonio? Dizia ela ao irmão.

- Não! - Fez o irmão com sustos.

- Você não soube ainda não, meu irmão?

- Até agora eu não soube nada sobre o que tenha acontecido com "Já Morreu".

- Pois meu irmão, logo cedo ele esfaqueou um ali na banca do Luizinho!

- "Já Morreu" esfaqueou um? - Perguntou o irmão com admiração.

- Sim.

- E como eu passei lá na casa do jogo do Paulo, e ele está lá sentado jogando baralho! Esta história não tem fundamento...

Realmente ele queria o dinheiro para sair gastando-o nos bares, nas casas de jogos, com as meretrizes...

Já Morreu só apareceu em casa quando gastou todo dinheiro.

Foi morto por 4 vezes, mas certo dia, da década de 10, deste século, finalmente "Já Morreu"morreu mesmo.

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Autor:
José Mendes Pereira

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São trabalhos feitos com especial carinho para você, leitor!

Francisca Rodrigues Duarte - Dona Chiquinha Duarte

Por: José Mendes Pereira
Dona Chiquinha Duarte

O livro "Ombudsman Mossoroense" do escritor e poeta David de Medeiros Leite, que é sobrinho de segundo grau de dona Chiquinha Duarte, afirma que ela nasceu no dia 17 de Julho de 1895, na cidade de Ereré, no Estado do Ceará. Era filha de Manoel Lucas Sobrinho e Maria José de Souza.

Pedro Nél Pereira

Quando eu ainda residia na companhia do meu pai, Pedro Nél Pereira, fui um dos que sempre fazia favores a dona Maria José de Souza, a mãe de dona Chiquinha, como por exemplo: rachar algumas lenhas para ela usar no seu fogão, encher potes, ou fazer companhia a Antonio Rodrigues de Sousa, o "Naim", seu filho, que era retardado. 

Não tenho real certeza, mas me parece que dona Maria José de Souza faleceu com 104 anos, mas ainda era lúcida, cheia de vida e conhecia todos da sua convivência, sem trocar nomes de ninguém.

Chico Duarte 
Francisco Duarte Ferreira - Chico Duarte

Dona Chiquinha era a segunda esposa do viúvo e fazendeiro Francisco Duarte Ferreira, conhecido por Chico Duarte,  dono de uma enorme propriedade, sendo esta  nomeada "Fazenda Barrinha", que se estendia ao Sul, pelo lado leste de Mossoró, começando pelos sítios Curral de Baixo, Angicos, Martelo, Tabuleiro Grande, Sítio São Francisco, Mururé, Barrinha, aonde era localizada a sua fazenda, e terminava no Norte, no Sítio Melancias, estremando com  as terras de um fazendeiro de nome Joca Correia.

 
Ex´-senador Duarte Filho

Chico Duarte Ferreira era pai do ex-senador Duarte Filho, e de Manoel Duarte Ferreira, sendo este último, o homem que na tarde do dia 13 de Junho de 1927, na ocasião da tentativa de invasão à cidade de Mossoró, pelo grupo do afamado Lampião, assassinou o cangaceiro Colchete e baleou o Jararaca.

 Manoel Duarte
Manoel Duarte - assassinou o cangaceiro Colchete

O casal também era pai adotivo da freira Letícia Rodrigues Duarte, (Irmã Aparecida), sendo esta filha de um dos irmãos do fazendeiro, mas foi criada e registrada como filha do casal.

Letícia Rodrigues Duarte - Irmã Aparecida
Letícia Rodrigues Duarte  - Irmã Aparecida

Todos os meus tios, tanto os irmãos do meu pai como os irmãos da minha mãe, nasceram em sua propriedade, inclusive meus irmãos e eu.

Dona Chiquinha era uma mulher alta, de cor clara, costumeiramente só usava vestidos longos, isto é, abaixo do joelho, de preferência azul e estampado. Muito séria, mas era uma excelente pessoa.

 
Escritor David de Medeiros Leite

Ainda segundo o David de Medeiros Leite ela fora a primeira motorista de Mossoró, e que ela também tenha sido  a primeira enfermeira de Mossoró. 

Após a morte do seu esposo, dona Chiquinha fez inventário dos bens, que haviam ficado em seu poder, entregando aos filhos do falecido (não eram seus filhos), as suas partes de terras, rezes, ovelhas e tudo que lhes era de direito.

www.adf.org.br

O que mais me chama a atenção até hoje, eram as suas fortes rezas, que quando um vaqueiro dava notícia que uma de suas rezes estava com bicheiras, ela se apoderava do terço, e iniciava uma longa reza. Dias depois, o animal havia sido curado.

www.terrastock.com.br

Como a palha da carnaubeira depois de seca não pode receber chuva, porque a água lavará o que é mais precioso, o "pó", geralmente apareciam nuvens preparadas para derramarem uma porção de água, e ela fazia o mesmo.  E sob o alpendre da sua casa, andando de um lado para o outro, e com o terço em mãos, iniciava as rezas. E não demorava muito para que as nuvens resolvessem mudar de direção.

http://ovalesustentavel.blogspot.com

Dona Chiquinha tinha um desejo de que todos os filhos dos seus moradores estudassem, mas apenas eu tive o privilégio de satisfazer o seu desejo, quando cuidou da minha formação, levando-me para a Casa de Menores Mário Negócio.

Geralmente quando o meu pai me mandava até à sua casa para que ela o emprestasse isso ou aquilo, eu sempre dizia: 

- Dona Chiquinha, papai mandou dizer que a senhora emprestasse a ele uma cangalha,  por exemplo,  pra mode ele..." 

Esta expressão "pra mode" é muito usada pelo camponês, mas quando eu a pronunciava, parece que doía muito nos seus ouvidos. E todas às vezes que eu a usava, ela me dizia: 

- Eu vou arranjar uma escola para você estudar, e deixar de falar esta expressão, "pra mode..., o que significa pra mode?"  - Perguntava-me ela. 

Eu que não sabia e nem tinha a mínima ideia o que significava, permanecia calado, apenas rindo.

Uern 
UERN - http://propeg.uern.br

Eu agradeço muito o que ela me fez, por ter me trazido para Mossoró, apesar de ser desta freguesia, colocou-me em uma repartição do governo  - SAM - Serviço de Assistência ao Menor,  nos dias de hoje - FEBEM, e hoje sou formado pela Universidade do Rio Grande do Norte, - FURRN - atualmente UERN, e já me encontro aposentado pela Secretaria de Educação, mas não devo a outra pessoa, e sim, a dona Chiquinha Duarte. 

Sei que muitos me ajudaram durante o tempo em que passei estudando, como dona Caboclinha, dona Severina Rocha, Beatriz, Maria de Lourdes, dona Maria Estela Pinheiro Costa, Dona Luci Pinheiro, irmã desta última, mas o passo principal, foi ela quem me deu.

Francisca Rodrigues ou dona Chiquinha Duarte foi uma verdadeira mãe para todos os seus moradores. Faleceu em Mossoró, no dia 14 de Maio de 1988, bem próxima de completar  93 anos de idade.

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