Por José Mendes Pereira
Quem passeou de trem indo para Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas e outras cidades do Rio Grande do Norte, com certeza ainda sente saudades do balanço e da descontrolada zoada que fazia o velho transporte.
O último trem com passageiros que ainda permanecia rodando sobre os trilhos, foi desativado de uma vez por toda, em um sábado, às 15:30, do dia 30 de Janeiro de 1988, ordem federal, e que muito fez falta às cidades do médio e Alto Oeste do Rio Grande do Norte.
A sua desativação, deixou muita saudade encravada no coração de cada mossoroense, ao saber que aquele trem que tanto colaborou pelo desenvolvimento de Mossoró, fora condenado a não mais pisar nas terras mossoroenses, e nunca mais colocaria as suas rodas sobre os trilhos.
Já bem próximo da sua ida sem volta, na Rua Melo Franco, muitos mossoroenses estavam atentos em suas casas, esperando o trem segui, e para verem-no pela última vez.
Os que trabalhavam na linha férrea das cidades como: Mossoró, Governador Dix-sept Rosado, Caraúbas, Jordão, Patu, Almino Afono, Mumbaça Demétrio Lemos Ulrick Graff, Alexandria, Santa Cruz, São Pedro, Sousa, sentiam um incômodo dentro do peito, em saber que durante muitos anos viveram em prol daquela máquina, e por último, só restava saber para onde iriam, já que o trem, infelizmente seguia para um lugar que nunca mais sairia de lá.
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Faltavam poucos minutos para que o condutor levantasse a bandeira verde, ordenando que o maquinista partisse com o trem para o destino combinado pelos superiores da rede ferroviária; talvez iria gozar de sua aposentadoria em Sousa, na Paraíba; e os corações humanos aumentavam as suas batidas. Alguns deles nervosos, encostados às portas das suas casas, aguardavam-no, para levantarem as mãos e dizerem: "-Adeus nosso trem querido! Você muito nos serviu por várias décadas, agora chegou a vez de ir embora para nunca mais voltar!".
Pouco tempo, o trem foi ligado a sua máquina. Os vagões encarrilhados, um a um, também estavam proibidos de voltarem a esta terra que tanto os acolheu por anos e anos.
O maquinista posicionado à cabine, não dava nenhuma palavra, apenas olhava firme em direção aos trilhos à sua frente. O seu ajudante permanecia ao seu lado com o olhar ao piso da máquina. O mecânico aproximou-se com uma mala cheia de chaves, e lá, a agasalhou em um vagão. E antes que descesse, bateu-lhe uma crise de choro. Os companheiros de trabalho acalentavam-no, pedindo-lhe que tentasse controlar a sua emoção. Mas o mecânico chorava descontrolado.
Finalmente, o trem que tanto rodou, deu o primeiro deslocamento sobre os trilhos, e partiu vagarosamente, recebendo o adeus de todos que ao lado dos trilhos esperavam a sua partida, e que nunca mais voltaria a esta terra.
A
ponte da estrada de ferro no Rio Mossoró-RN, foi concluída no dia 7 de
fevereiro de 1915, um dia de domingo e oficialmente em 19 de março de
1915 (sexta-feira), idealizada pelo suíço JOHAN ULRICH GRAFF. comerciante
que fixou-se em Mossoró, em 1866, com seus companheiros Henrique Burly,
Rodolfo Guyane e Conrado Meyer, este, também, suíço. Em 1868, Johan Ulrich
abriu, na praça mossoroense, a Casa Graff, voltada ao comércio de importação e
exportação. Na época da inauguração o prefeito de Mossoró era FRANCISCO VICENTE
CUNHA DA MOTA (1914 - 1916)
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O trem foi desaparecendo, e apenas se ouvia o seu apito sanfonado, como um choro de quem está partindo para bem distante de seus familiares. E a fumaça cobria um pouco a visão de quem o olhava.
Os que permaneciam ao lado da linha férrea, baixaram os seus olhares, como se tivessem perdidos um dos seus entes queridos. Mas mesmo assim, não paravam de acenar para ele.
O trem seguia lentamente, porque era um desejo do maquinista, demorar mais um pouco, já que nunca mais iria manobrar aquela máquina tão importante na sua vida. As lágrimas deslizavam sobre a sua face magra e quente, provocadas pelo calor da temperatura da máquina.
Em um momento, o ajudante percebeu que o maquinista lacrimejava, e perguntou-lhe:
- Você Está chorando?
- Um pouco. Sinto um forte arrocho no meu coração, devido a saudade que já estou sentindo, por quem não voltará comigo, deixou-me doente. Foram décadas que passamos juntos. Mais momentos bons do que ruins.
Infelizmente, o trem que tanto rodou sobre o chão de nossa cidade, que a engrandeceu, prestando os seus serviços, desapareceu dos trilhos e dos olhares mossoroenses. E alguns que haviam acompanhado a sua partida, no silêncio, também lacrimejavam.
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O trem se foi. Em todos os momentos de metros rodados, os olhares dos sertanejos que residiam próximo à linha férrea, acompanhavam-no. Animais, pássaros, árvores, todos estavam com os seus holofotes virados em sua direção, para despedirem-se do trem que nunca mais voltará a nossa querida Mossoró.
O adeus dos mossoroenses dirigido a você, trem, ficou registrado na mente de cada um. Você se foi, e com certeza, está guardado sob um galpão, sujo, empoeirado e coberto por malditas crostas ferrugentas.
Minhas Simples Histórias
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