quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pra não dizerem que eu não falei de Paparazzi

Por: José Mendes Pereira

O que é paparazzi? 
           
No dicionário Aurélio paparazzi são profissionais que se dedicam a tirar fotos indiscretas de pessoas conhecidas ou ilustres. 
            
No nosso caso vamos aportuguesar esta palavra, passando a ser escrita, paparazo e lhe dando o feminino, paparaza. É claro que ela não significa o que segue, mas façamos de conta que sim. É apenas uma brincadeira.
            
Em todas as repartições públicas o diretor tem duas pessoas de grande confiança, elas são as suas paparazas, que se encarregam de todas as coisas relacionadas com a sua administração.
            
Vamos nomeá-las para que nós entendamos melhor o que segue. 
            
A primeira paparaza é a Marcileide. Sempre está sentada ao lado direito do diretor, e se encarrega dos papéis, arrumando-os com muito cuidado, olhando se estão assinados, carimbados, e se os mesmos estão selecionados. Tem o maior prazer de carimbar diante do diretor. Tuf. Tuf. Torce muito para que algum deles esteja faltando a assinatura do diretor, para ter o gosto de dizer:
            
- Seu Paulo, falta o senhor assinar este.
            
E o  diretor  cheio de ponderações, jamais  teve tanto agrado, até mesmo em casa, sorri dizendo-lhe:
           
- Tem razão! Eu tinha me esquecido. Obrigado! Agradece ele com um obrigado lacônico. 
            
E quando tem contas para pagar a Marcileide está atenta! Sim senhor! Oferece-se para ir fazer o pagamento no banco, e muitas vezes ela não tem nem tempo para isso. 
            
- Não posso negar nada a ele. Afinal minha gente, ele é o meu diretor.
           
Diz isso a todos, na finalidade do diretor tomar conhecimentos através das outras pessoas, que ela é muito responsável em tudo que toma de conta.
            
A segunda paparaza é a Kátia. Geralmente se senta ao lado esquerdo do diretor, e se encarrega de uma fofoca, mas ela não imagina que a turma já observou o seu comportamento de fofoqueira. 
            
- Eu não tenho certeza Seu Paulo, mas pelo que me falaram..., Deus me livre dele saber que eu comentei ao Senhor..., pelo amor de Deus, o Senhor não comente isso a ninguém..., mas foi ele quem levou os livros..., quebrou a garrafa de café..., quem criticou da sua administração...
            
Também é encarrega de um docinho, água bem geladinha, bolachinha, de um cafezinho, e tem o maior cuidado com as xícaras para que não estejam com cheiro de baratas. O café não pode ser forte. 
             
Daí a pouco ela aparece com o sorriso no rosto e nas mãos, um cafezinho para o diretor. 
             
- Quer um cafezinho, Seu Paulo?
             
- Lógico! Exclama ele.  Recebe das mãos dela e começa a tomar.
             
Minutos depois ela pergunta meio desconfiada:
             
- O café está gostoso?
             
- Além de bom! Está ótimo! – Responde ele num tom de admiração...,  é Kimimo ou Santa Clara?
            
- É Kimimo. Mas se o senhor gosta mais do Santa Clara, amanhã eu o compro.
            
- Não, Não! Faz ele meio sem graça. Não tenho opções. Todos são cafés.
            
- Está doce? 
            
- Está! E gostoso!
            
- Nessa vasilha tem bolachas. – Diz ela meio tímida e sorrindo. 
            
O diretor apodera-se de uma bolacha, mas não é a do seu gosto.  Bolacha recheada é para criança que ainda não mudou os seus dentes de leite. Afinal, ele cuida bem dos seus.
             
Mas continua comendo, quase sem querer descer na hora de engolir.
             
A Kátia está ali por perto, quase como uma mãe protetora, e não desgruda o olhar.
             
Mas de repente ela nota coisas diferentes com o diretor, e pergunta-lhe: 
             
- O que houve, Seu Paulo?
             
- Nada! Nada! – Diz ele quase entalado.
             
- O Senhor quer um copo  d’água? 
             
- Não, não é necessário.
             
E ele continua comendo, e vez por outra faz: unrum, mastiga, pede água e tome água e unrum, e tome café e unrum, e tome mais bolachas, unrum...
             
O diretor não precisa se preocupar, pois ao seu lado está uma grande protetora. É uma coisa fantástica o zelo que ela tem com o diretor.
             
Mas o Seu Paulo parece que está querendo provocar, e está engasgado causado pelas bolachas. E de vez em quando quer cair sobre o birô, quer provocar, com um enjoo terrível. Tenta jogar fora o que comeu, mas não tem jeito, apenas está com nojo das bolachas recheadas. Abre a boca para vomitar, tem uma boca enorme, pois se tentar, cabe um pacote de pão de forma.
             
- Meu Deus!  Que homem de boca grande! - Admira-se a Kátia com a voz baixinha, para que ele não a perceba.         

Mas ela continua preocupada. Afinal foi a única causadora de tudo, pois o diretor não é criança para estar comendo bolachas recheadas.
             
- Quer mais um copo d’água, Seu Paulo?
             
-Não! Não! – Eu estou bem, obrigado! Não se preocupe comigo! Já passou. Diz ele passando a mão sobre a barriga... 

E assim são os paparazos de um diretor.

Observação:

Isto é apenas uma brincadeira. Trabalhei muitos anos em escolas e sempre me dei bem com todos funcionários.   

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O professor João Maleável goza licença especial

Por: José Mendes Pereira

Nos últimos anos o João Maleável se sentia meio cansado e precisava com urgência de férias. E para isso, ele tinha direito. Sim senhor!  Quase quinze anos de serviços. Podia se afastar de suas atividades pelo menos por um período de seis meses. E se quisesse, ausentar-se-ia por nove meses.  Isso era uma opção dele.
              
E às pressas ele procurou um substituto.  Carlos Maia. Um primo carnal e de grande confiança. "- É meu primo carnal. Filho de um irmão do meu pai, e filho de uma irmã da minha mãe". 
            
O Carlos Maia, um jovem que ainda não tinha experiências em sala de aula. Mas sempre fora de muita responsabilidade em tudo que tomava de conta. E por sinal, acadêmico de letras em uma das universidades do Rio Grande do Norte. Um grande homem letrado, como dizia o mestre.
             
Quando o nosso professor entregou o material ao novo mestre, isto é, ao substituto, ele se pôs a observar os quadrinhos da presença, e notou que o veterano fazia a chamada da seguinte maneira: Um (P) e um (O). Sem entender aquela desastrosa chamada, o futuro dono da sabedoria resolveu pedir uma explicação ao grande professor polivalente.
             
- Professor, eu estava observando a maneira que o senhor usa para fazer a chamada, e achei muito interessante e engraçada! Quando o aluno estava presente, acredito-me, o senhor colocava um (P). Tudo bem! Até aí eu entendi direitinho. Mas quando o aluno não estava presente, o senhor colocava um (O). Professor, dê-me uma explicação para o significado do diabo deste (O)! 
            
O João Maleável cheio de orgulho, metido a inteligente, não só inteligente, mas inteligentíssimo, e com a confiança de que nada estava errado, que sempre fez aquele trabalho certíssimo, e que se dedicava por total e com responsabilidade, olhou bem no fundo do olhar do primo, balançou um pouco a cabeça, dando a entender que o parente talvez não fosse ser feliz na nova profissão, repuxou o colarinho da camisa, e com um sorriso largo e aberto, respondeu-lhe.
             
- Ó meu grande Deus todo poderoso! Primo, não me decepcione diante dos meus amigos professores, primo!  Não é ozente, primo!
             
-Sim!..., Sim!..., Sim!..., Sim! Entendi, primo! - Confirmou o marinheiro de primeira viagem com um sorriso sarcástico e fantasioso.

             (O que é que é isso, João Maleável? Não estudou!).

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As burrices do Professor João Maleável

Por: José Mendes Pereira

- Lá vem ele! - disse um aluno que estava encostado à porta da entrada da sala de aula. É ele! É ele!  Confirmou-o ordenando que todos se sentassem cada um em seu lugar.

Já fazia um bom tempo que a turma o esperava com impaciência dentro da sala, e alguns já admitiam a sua ausência nessa noite.

Finalmente o João Maleável colocou os pés nos corredores e veio caminhando lentamente. 

- Calma! Calma! - Exclamou uma aluna de outra sala que caminhava em direção à diretoria.

Na lousa, alguém tinha colocado uma oração para que o professor João Maleável a analisasse. 

“Um lavrador tinha um bezerro e a mãe do lavrador também era o pai do bezerro”.    
              
Assim que ele entrou na sala, pôs a pasta sobre a mesa e em seguida observou a oração, lendo-a consigo mesmo. Depois não satisfeito com a oração, voltou-se para a turma e perguntou:

- Quem elaborou esta frase sem sentido?

A Cristina, uma das alunas mais aplicada do colegial, autora da oração, pelo menos naquele momento, ocultava-se entre os colegas.

- Esta oração professor, nós queremos a sua explicação sobre ela - Disse a Carolina.

Ele foi à lousa e pôs-se a fazer a análise. Olhou-a escreveu-a paralela a anterior, apagou-a, reescreveu-a novamente, inverteu a oração para ali, para acolá, e em seguida, disse:

- Eu já entendi o que significa muito bem esta oração, meus alunos! Desculpem-me, mas essa mulher é uma hermafrodita.

- Por que ela é uma hermafrodita, professor? – Quis saber a Janaína.

- Observe, gente! Além de ela ser a mãe do lavrador, também era o pai do bezerro. E mulher desse tipo meus alunos, não pode ser elogiada com um outro nome. Tem que ser chamada mesma é de hermafrodita.

- Eu concordo plenamente com o senhor, professor!  - Incentivou-o a Daniela.

- Veja, minha gente! - Encorajou-se ele após o incentivo da Daniela - ela deu cria de duas espécies diferentes! - Dizia ele apontando a turma com o dedo indicador. Deu cria do lavrador e do bezerro. E quem produz vida sozinha meus alunos, não passa de hermafrodita.

- Valeu professor! O senhor é nota dez. Criticou um gaiato lá do meio da sala.

- Com um zero e uma vírgula antes do um! - Zombou um outro aluno que passava no momento em frente à porta da sala.

Análise da frase:

"Um lavrador tinha um bezerro e a mãe. Do lavrador também era o pai do bezerro".

Observação: A oração não é criação minha, apenas montei a historinha

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As características físicas e psicológicas do Professor João Maleável

Por: José Mendes Pereira

João Brasileiro da Silva eu o conheci muito, mas de vista e chapéu. E era alcunhado em Mossoró por João Maleável. Um senhor de muitas palavras, mas bastante respeitado pelas pessoas que lhe rodeavam. Algumas vezes, grosseiro, e em outros momentos, manso, brando, tímido, amigo, maleável, façanhoso como diz o ditado.  Era dono de uma estatura alta e meio feiosa. Moreno, um pouco cabeçudo, lampinho, e odiava a onda dos cabeludos.  De bigode largo e bastante fechado, aparentando uma vassoura de piaçava. 
               
De todos os seus adjetivos, o que mais lhe chamava à atenção, era o de maleável. Adorava este apelido e não podia negar a ninguém. Era maleável por natureza, e nunca se importou com o adjetivo que lhe deram. E ainda dizia orgulhosamente: “-Este é o meu apelido carinhoso”. 
               
Morava numa casinha bem pequeninha nas margens do rio Mossoró, ao lado do Horto Florestal, e de lá dava para se ouvir o retumbar das águas deslizando sobre a barragem Jerônimo Rosado. 
              
Entrava-se na casinhola por uma passarela que se estendia desde o portão da entrada, até à porta da sala. De um lado e do outro, um pomar viçoso enfeitava a parte da frente da casinhola. Pelos fundos, ele continuava e confinava-se com a Comensa, nos dias de hoje, Cosern. 
             
Vamos invadir a casa do João Maleável?                    
             
Na sala, em um dos lados, dormia uma poltrona velha com o tecido que lhe envolvia todo rasgado. O outro, repousavam quatro tamboretes cobertos com couro de animais, mais uma escrivaninha bastante estragada, necessitando de um reparo urgente. Da salinha até a cozinha, os seus móveis eram: uma mesa, uma vitrola, uma geladeira a gás com a ferrugem invadindo as partes metálicas, lá na cantareira um pote, bastante gasto pelo  tempo, um fogão a lenha e mais uns utensílios domésticos. Esses completavam a sua mobília.
             
Apesar da pobreza, não lhe fazia vergonha de modo alguma em convidar os amigos para saborearem uma carne assada nos finais de semanas, com uma bela cachaça nomeada “Velho Barreiro”. 
              
Em anos anteriores, tinha sido motorista de ônibus, carpinteiro, pedreiro, açougueiro, protético prático, vendedor ambulante de ouro e outros artigos (bugigangas), como ele chamava as suas malas quando saía para trabalhar.  
             
Ninguém sabia a sua verdadeira naturalidade. Algumas vezes dizia que tinha nascido no Rio Grande do Norte. Mas em outras ocasiões, no Ceará, na Bahia, no Rio de Janeiro, no Acre, em São Paulo, em Sergipe, nas Alagoas... E assim levava a vida mentindo para os amigos. A única certeza que se tinha do João Maleável, era um brasileiro nato, de carteirinha e nada mais. 
              
Lá dentro da casinhola, mexia-se e tomava de conta dos seus pertences a Magali, a sua esposa Gagá, como ele a nomeava nas horas amorosas. Era uma senhora morena, gorda, pequena, pernas grossas tipos pilões, cheias de varizes, barriguda com as banhas derreadas sobre a castidade. De nariz arrebitado, queixo alongado para frente, cabelos enroscados ao crânio, seios avantajados e fora dos padrões da natureza. E vez por outra as mamas desajeitadas colocavam as gorduras para espiarem o mundo por cima do decote. E ele quando as via querendo sair para tomar um ventinho, carinhosamente dizia-lhe: “-Cuidado com os mamões, minha velha!”. 
              
Ela não se sentia bem, mas aceitava com um sorriso seco e desconfiado. Era feia a esposa do João Maleável. Apesar da feiúra, ele ainda se gabava diante de toda vizinhança. “- Esta é a mulher mais linda que eu já conheci na minha vida!”.  
              
Uma vez, no bar do Aderaldo, o Motinha cheio de pingas, disse ao Pedro Paulo em boca miúda, que a Gagá do João Maleável tinha todas as semelhanças de um hipopótamo fêmeo. Fofoca! E era necessário que o IBAMA fizesse uma busca nas proximidades do Horto Florestal, para capturá-lo e em seguida entregá-lo a África, pois o seu lugar era lá. 
              
Dias depois, o Pedro Paulo enredou-o que o Motinha andava apelidando a sua esposa, chamando-a de hipopótamo fêmeo. Mas apesar do pouco respeito dele com a Gagá, ele não se interessou de ir atrás do mexerico, dizendo que: “-Quem tem boca diz o que quer.” Também podia ser bisbilhotices do Pedro Paulo para infernar os dois. 
              
Um dia, ele mesmo, andava meio atrasado com contas no bar do Aderaldo, e como não estava com condições de liquidá-las, usou a sua mansidão, ofereceu a Gagá como abatimentos nas contas. Assim que ele fez a proposta, o Aderaldo respondeu-lhe de boca cheia e com os olhos arregalados.  
              
- Deus me livre, João Maleável! Deus me livre! - bradava ele se benzendo. Cada um com o seu hipopótamo fêmeo na lagoa! Eu com o meu e você com o seu.                     
             
A esposa do botequineiro Aderaldo, Magaive, Gaivinha, carinhosamente, era irmã gêmea da Gagá e ambas tinham as mesmas características, e cada uma delas era um mundão de mulher de tão gorda e desajeitada.     
               
- Cuida do teu hipopótamo fêmeo que eu cuido do meu! – dizia o Aderaldo. Dois hipopótamos fêmeos para um homem só, João Maleável, é carne que não se acaba mais nunca! E se não der vencimento, vai entrar no estado de putrefação e desgraça o nosso bairro todo! Até a Santa Luzia vai exigir que a Diocese de Mossoró a mande de volta para a Itália! O comércio vai fechar as portas com tanto mau cheiro de carne sentida. Isso é coisa para açougueiros! - disse e saiu às pressas da casa do João Maleável sem olhar para trás.  
                
Vamos conhecer a família do João Maleável? 
                
Além da Gagá eram seis filhos pequenos, e todos capazes de caberem dentro de um balaio.  
                
O último filho que havia nascido, fazia dois meses que tinha colocado o focinho no mundo. 
                
Antes de ser professor, o João Maleável havia comido do pão que o diabo amassou, pois o pouco que ganhava nas vendas, não dava para cobrir as despesas de casa, e a sua situação andava preta. Não tinha mais roupas, as camisas não mais suportavam costuras, e duas calças que lhe restavam, uma delas tinha sido mastigada por um animal. Um único par de sapatos que dispunha, o solado estava tão fino, que se ele pisasse em uma moeda de cinquenta centavos de cruzeiros, já dava para sentir se o lado pisado era cara ou coroa.  
               
Devido à situação que ele enfrentou, todas as noites antes do deitar, ia às redes dos filhos para contá-los, consolidava que como as coisas andavam desmanteladas, tinha medo que os cinco filhos fizessem um churrasco com um outro irmão.


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