Por: José
Mendes Pereira
João Teotônio
da Silva era cearense, mas viveu em Mossoró, até os seus últimos dias de vida.
Chegara aqui ainda garoto, quando o seu pai, o velho Marcinho veio
trabalhar na firma algodoeira “Alfredo Fernandes”.
João Teotônio
cresceu no bairro da Lagoa do Mato, trabalhando como zelador de cavalos de
corrida. Apesar da profissão que exercia, nunca participou de vaquejadas, e nem
de derruba de gado nos tabuleiros. Era obcecado por cavalos, principalmente
cavalo preto, Star Black, como chamava ele. Os tempos foram se passando, e nunca
tirou da mente, de um dia ser proprietário de um bom e lustroso cavalo. Mas só
queria se fosse preto, tinto.
Já casado,
morando à beira da estrada que leva até à cidade Governador Dix-sept
Rosado, vivendo de uma pequena criação de gado miúdo: suíno, caprino e ovino,
João Teotônio fez economia, e dois anos depois, era dono do mais famoso cavalo
da região. Assim que o comprou, ensinou-lhe a deitar-se, a levantar as
patas dianteiras, a cumprimentar as pessoas que o assistiam, correr rodopiando,
relinchar agradecendo aos que presenciavam ao espetáculo.
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Tinha um
cuidado exagerado ao seu cavalo, e até a água que o animal
bebia, era guardada em cisterna, e antes de lhe dar de beber, era
passada em melhores filtros.
João Teotônio
orgulhava-se quando passeava pelas ruas de Mossoró, montado no seu belo
animal, recebendo os olhares dos curiosos e invejosos, que
ouviam o toc,
toc no calçamento, causado pelas ferraduras aparafusadas nas patas do seu
cavalo. Teotônio todo enfiado num uniforme de cor preta, até
aparentando o cavaleiro Star Black. Ali se sentia um dos mais
admirados homens de Mossoró. Nem o prefeito da cidade era tão importante
quanto ele.
Certo dia, ao
clarear, dirigiu-se até ao estábulo onde o cavalo dormia.
Ao chegar,
encontrou a porteira aberta, e o Star Black não estava lá.
Desesperado com o desaparecimento do cavalo, danou-se pelos campos da
pequena propriedade, mas não o encontrou. Saiu pelas fazendas vizinhas, em busca
de informações sobre o paradeiro do animal, mas ninguém o viu.
Os dias foram
se passando, e João Teotônio continuava sua luta pelos campos e fazendas, para
ver se recuperava o seu famoso cavalo, mas não recebera nenhuma informação. Desconfiado
que se tratava de furto, e sabendo que se não fizesse algo diferente não
seria tão fácil recuperá-lo, inteligente, organizou um aviso:
"Atenção
moradores de Mossoró e das cidades adjacentes! Sou um fazendeiro que reside na
cidade de Pau dos Ferros-RN, e querendo comprar um cavalo de cor
preta, totalmente preto, gordo, bonito, famoso, que já seja
acostumado a usar ferraduras, sem marcas de ferros no corpo, sem
orelhas assinadas, favor comunicar a Rádio Difusora de Mossoró,
localizada à Rua Alfredo Fernandes, nº 271, fone: (****), que a mesma
entrará em contato comigo. Mas lembrando que só me serve com estas
características.
Quero realizar
um desejo da minha esposa, que no momento, está querendo sair pelas ruas de Pau
dos Ferros, em uma carruagem puxada por uma dupla de cavalos preto, imitando a
rainha Elizabeth I. Já tenho um cavalo com estas mesmas características, por
essa razão, não adianta ninguém me apresentar cavalos diferentes. Compro-o com
preço além do oferecido no mercado. Assinado: Paulo Galvão Filho)".
Dias depois, o
suposto fazendeiro recebeu informações da rádio, que um senhor de nome
Bertoldo, no Sítio Piquiri, tinha um cavalo com essas mesmas características.
De imediato, João Teotônio abalou-se para o sítio indicado, na intenção de
saber se era o seu cavalo. Ao chegar, ao longe, avistou o
animal, e sem dúvida, aquele cavalo era o seu. E entre uma árvore e outra, foi
chegando mais perto.
Virando-se
para o homem que o acompanhava, e que naquele momento, era o dono do cavalo,
disse-lhe:
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- Senhor,
aquele cavalo é o meu.
- Não
senhor! Aquele cavalo eu o comprei na semana passada - disse-lhe o
comerciante de cavalos.
-
Justamente. Ele foi roubado na semana passada. E vou provar ao senhor, que é
o meu cavalo. Eu o chamo de Star Black. Vou me esconder atrás
desta aroeira, e vou o chamar. O senhor vai ver que ele vai ficar me
procurando. Mas se esconda também - dizia o suposto fazendeiro.
Ali, esconderam-se entre as árvores, e João Teotônio fez:
- Star Black!
- Star Black!
Ouvindo a voz
do seu dono, o cavalo virou-se em direção a eles, e lá ficou
impaciente o procurando, e talvez se perguntando: "Quem me chamou? Terá
sido o meu dono? Ou eu estou sonhando?
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Voltando-se
para o comprador de cavalos, João Teotônio disse-lhe:
- Eu não sou
fazendeiro, apenas me apresentei no aviso, pois eu queria recuperar o meu
cavalo que já o considerava perdido. Este é a minha vida. Eu vou me aparecer, e
o senhor vai ver que ele vai correr em minha direção.
Quando o João Teotônio saiu detrás da árvore, o cavalo fez carreira em sua direção.
Ao chegar,
relinchou, deitou-se, em seguida, levantou-se, e pôs as patas para o ar, e
pôs-se a fuçá-lo com o nariz, como se estivesse dizendo: "leva-me para
casa, estou com uma saudade imensa dos meus amigos, das ovelhas, dos porcos...,
preciso revê-los, aqui já apanhei, mudaram meu nome para "Pelé", aqui
não conheço ninguém, sou tratado como cavalo, e em tão poucos dias
nesta fazenda, me sinto socado dentro de um verdadeiro inferno. Eu já
imaginava que poderia ser vendido para o abate. Nunca mais tomei um banho,
e tenho me alimentado muito mal. Leva-me! Leva-me para nossa residência! Lá é o
meu lugar".
Satisfeito por
ter achado o seu amado cavalho, Teotônio olhou com um sorriso bem aberto,
perguntando ao comprador de cavalos
- O senhor
ainda tem dúvidas que este cavalo não é meu?
- Não. O que o
cavalo fez, ficou mais do que provado que é seu! Ponha sela e tudo de direito e o leve em sua
companhia. Não tenho mais dúvida.
- Eu não quero
saber a quem o senhor o comprou, dizia João Teotônio, quero apenas
levá-lo de volta para minha casa. Ele é tratado como um filho, coisa que na
minha casa, nunca nasceu.
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