quarta-feira, 31 de julho de 2013

Casa de Menores Mário Negócio - Uma instituição extinta - Parte VI

Por José Mendes Pereira
José Mendes Pereira

Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano:

Naquele estabelecimento de ensino não por vandalismo, coisa de adolescentes, e que nunca ninguém sofreu nenhum dano praticado por nós, internos, apenas era uma maneira de nos divertirmos com coisas simples, devido às privações e as regras do internato.

Revendo hoje na minha mente algumas astúcias que nós fizemos durante o tempo em que passamos naquela instituição, lembrei-me da despensa lotada de alimentos do bom e do melhor, onde ali era um verdadeiro mercadinho, com charque, carne de sol, jabá, sardinha, conserva enlatado, doce, rapadura, leite em pó, e tantos outros produtos de boa qualidade, tudo aquilo para o nosso sustento, mas com limites, e que nós não dávamos um prego em um isopor.

Em noites variadas, noite sim, noite não, nós que já nos aproximávamos da maioridade, fazíamos o assalto à despensa da escola, quando ainda o estabelecimento era instalado na Avenida Alberto Maranhão, em frente ao posto paraibano, bem próximo à Praça conhecida por Praça do Alto da Conceição. E geralmente, nós dávamos início ao furto à despensa após as 11; 00 horas da noite, quando todos já haviam chegado das suas escolas; e também porque os internos menores já estavam dormindo.

Como ali existiam alunos que poderiam mexericar, o que nós aprontávamos, e um dos tais, Gutemberg (o trinta, já falecido), que me parece que era um dos 21 filhos da dona Candinha, do grupo dos sete que falam, evitávamos fazer o nosso furto diante dele, pois se nós déssemos chances, no dia seguinte chegaria à diretoria. 

Como ele gostava de noite sim noite não dormir na casa de um dos seus primos, com ordem da direção, só usávamos a despensa para furtarmos mercadorias para a nossa merenda, em noite que ele estava fora do ambiente escolar.

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Geralmente os que faziam o assalto à despensa eram: Willame, (o Tigá), este nos dias de hoje se encontra totalmente fora de si); Josué (o galego), e que não tenho roteiro por onde anda; Walter, o qual tenho dúvida se à sua cidade é Janduís;  Francisco de Souza (o nove), (segundo dona Maria de Lourdes, ex-zeladora de lá, informou-me que este fora assassinado há alguns anos).

Foto: Que coisa, hein!

Nos anos sessenta - Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira
Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira

Mais você com suas malandragens, mas, apenas no intuito de  diversão; e eu, entre outros, que não posso revelar os seus nomes, porque eles faziam parte do corpo docente da escola.

Os demais alunos que ainda eram mirins não podiam saber deste nosso ataque à despensa, pois eles poderiam nos entregar as administradoras, e se isso acontecesse, nós estaríamos ferrados.

Como a fechadura da despensa era de boa qualidade jamais conseguimos chaves adequadas, e sendo o ambiente que guardava as mercadorias apenas de meia parede, um subia por cima, e de lá ficavas jogando o que seria necessário para a nossa merenda reforçada e ilegal. E quem se encarregava de fazer a nossa merenda era Josué (o galego), que tinha mais habilidade para cozinhar. 

Terminada as nossas refeições limpávamos o enorme fogão industrial, lavávamos os pratos e colheres, colocando-os todos em seus devidos lugares, para que as empregadas não percebessem que  o fogão, colheres e pratos haviam sido usados na noite anterior. Cuidávamos de deixar tudo arrumadinho como elas haviam deixado ao saírem da escola. 

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Mas com todas as espertezas que usamos por muito tempo naquela escola, nenhum de nós se dedicou a roubos, desonestos ou passou a ser marginal. Isto era apenas coisa de adolescentes.

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Autor:
José Mendes Pereira

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