Por: José Mendes Pereira
Quando pedi minha demissão da empresa em que eu trabalhava, fui viver do comércio, no ramo de cereais, bebidas e outros mais que não podem
faltar nas prateleiras de uma mercearia. Atividade esta que eu não tinha a mínima
experiência. Vivi durante cinco anos do comércio, e posteriormente, tentei
várias atividades, as quais não me deram bons lucros, mas deram para sustentar
a minha pequena família.
Após o comércio, tentei outras atividades, como: proprietário
de bar, de casa de jogo, possuí uma pequena fábrica de sabão, fui também rádio técnico,
sendo que esta profissão eu tive que abandoná-la poucos meses de iniciada,
porque alguns rádios chegavam à minha casa ainda falando, e quando saíam,
alguns fregueses me reclamavam que o seu veículo de comunicação, estava falando
fanhoso. Vendo que eu não servia para esta atividade, resolvi abandoná-la de
uma vez por toda.
Exceto professor, a única profissão que mais
demorei nela como patrão, foi a de serralheiro, mesmo já sendo funcionário
público, permaneci por mais de 10 anos.
Quando eu era comerciante fui várias vezes enganado
por fregueses, mas o trambique que mais me doeu, sem dúvida, foi de um senhor que eu não o conhecia.
Certa feita eu me encontrava no meu pequeno comércio,
quando de repente me apareceu um senhor baixo, moreno, cabeludo, de barba rala,
aparentemente era homem do campo, puxando um
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jumento, e agarrados à cangalha
uns caçoas, que serviam para transportar as suas mercadorias. De início, o homem
conversou, conversou, tomou uma birita, mais outra, em seguida pagou-me, e
depois abriu o jogo:
- Eu vim até aqui à sua mercearia ver se o senhor me
vende fiadas umas coisinhas para eu levar para os meus filhos. Desde ontem que eles
não comem nada, só bebem água, água; a mãe chora muito em vê-los com fome. São
quatro filhos, todos capazes de caberem dentro de um balaio. Eu não tenho mais
o que fazer. Ao vê-los com fome, fico me perguntando: Por que Deus me deu uma
cruz tão pesada para carrega-la? Se o senhor fizer isso por mim eu estou com
um milho para quebrar, e assim que eu vendê-lo, venho logo lhe pagar o valor das
mercadorias que eu as levar.
Logo que ele me fez a proposta de imediato lhe disse
que eu não tinha condições de fazer nada por ele, uma vez que eu não o
conhecia, nem onde morava. Os poucos fregueses que eu tinha eram meus vizinhos,
e se eu o fornecesse mercadorias, com certeza iria faltar para os meus
fregueses.
Ele insistiu mais uma vez, mas eu conservei o que
tinha dito antes, pois eu não podia vender mercadorias a quem eu não o
conhecia. O homem montou-se no seu animal e foi-se embora, sem me dizer muito
obrigado pelas minhas verdadeiras palavras.
Assim que ele saiu da minha mercearia eu me pus a
pensar, colocando-me como se aquilo fosse comigo, meus filhos todos com fome, e
eu não podia comprar nada para eles.
E que alegria as crianças iriam sentir quando o avistasse já chegando bem perto de casa, dizendo uma para a outra: “-Lá se vem papai com alimentos para nós”. E de imediato fariam carreira para encontrá-lo.
E que alegria as crianças iriam sentir quando o avistasse já chegando bem perto de casa, dizendo uma para a outra: “-Lá se vem papai com alimentos para nós”. E de imediato fariam carreira para encontrá-lo.
Vai,
seu Madruga! - José Mendes Pereira
Peguei a minha velha e surrada lambreta e tomei o
caminho que ele havia seguido. Eu não sabia com certeza a direção, mas como eu
estava no transporte, de qualquer jeito eu o encontraria.
Não demorou muito para eu o encontrar, porque ele seguia
em uma estrada carroçável. E assim que eu o alcancei disse-lhe:
- Vamos buscar as mercadorias. Eu resolvi vendê-las,
mas em uma condição. Assim que o senhor vender o seu milho, venha logo me
pagar.
- Com certeza, seu moço! Sou um homem de palavra. Quando
dou a minha palavra, ninguém desmancha.
Com a lista em mãos, fui colocando as mercadorias sobre o
balcão, uma por uma, e anotando-as no meu caderno, inclusive o seu nome, onde
morava...
O certo é que foi a primeira e última vez que eu vi
este senhor. Nunca mais o vi nem de longe. O homem era um verdadeiro trambiqueiro.
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Autor:
José Mendes Pereira
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