terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Aposentadoria por esperteza

Por: José Mendes Pereira

Em anos remotos o Instituto Nacional de Previdência Social hoje INSS, tendo este mudado  de nome por várias vezes era muito desorganizado, e por falta de administração ou controle, não sei, muita gente adquiriu a sua aposentadoria usando diagnósticos falsos, quando era aposentado por qualquer motivo, até mesmo sendo beneficiado com um simples corte na mão, no pé, enfim, para ter direito a benefícios tudo era válido, e uma das aposentadorias ou benefícios mais fáceis era para aqueles que trabalhavam na produção do sal, o chamado salineiro, que alguns metiam a picareta num dedo, ou mesmo na canela, corria até ao INPS, e já estava assegurado por um bom tempo, o chamado benefício por acidente, vez que ninguém consegue trabalhar em colheita de sal com ferimentos, pois o sal jamais deixará o ferimento fechar por completo.


Zé Pretinho era um senhor mossoroense, e que se empregara em uma repartição do governo estadual já com a idade avançada, na função de auxiliar de serviços gerais, e além disto, não era um funcionário que tinha interesse pelo seu emprego, e estava ali, na finalidade de adquirir uma oportunidade para correr com os seus documentos até ao INPS, e lá, lutar pelos seus direitos, já que era um homem velho. Fez tudo para que desse certo a aprovação da sua aposentadoria, mas tudo era em vão.

Chegou até fingir que estava maluco, quando várias vezes, os próprios amigos de trabalho viram-no falando sozinho, dançando com uma ferramenta nas mãos, como se fosse uma mulher nos seus abraços. Se usava uma enxada, fingia ser um machado que cortava, uma picareta que cavava, um carro de mão..., e assim foi tentando enganar o seu chefe.

Como os seus amigos acreditavam que realmente o Zé Pretinho estava ficando louco, levaram o assunto ao chefe, afirmando que o que Zé Pretinho fazia,  mesmo sem eles estarem presentes, eles não tinham dúvida, o Zé Pretinho estava ruim da bola, e que o chefe o encaminhasse ao INPS, para uma possível aposentadoria.

Mas se o Zé Pretinho era esperto, fazendo-se de louco, na finalidade de adquirir a sua aposentadoria, muito mais esperto era o chefe, pois não acreditava em tal loucura do Zé Pretinho.

O chefe  chegou a dizer que só acreditava que o Zé Pretinho estava mesmo enlouquecendo, se ele um dia chegasse lá na repartição rasgando dinheiro e comendo cocô de gente. Mas o chefe não imaginava que em uma das salas da repartição, o Zé Pretinho ouvia tudo o que o chefe dizia ao seus comandados.

Já ciente que se isto fizesse o seu chefe o encaminharia até ao INPS para cuidar do seu direito, no dia seguinte, o Zé Pretinho chegou à repartição, e antes que iniciasse as suas obrigações rotineiras, puxou do bolso uma cédula de Mil cruzeiros, rasgou-a na presença do chefe. E em seguida fez o mesmo com um cocô seco, e comeu  na presença do chefe. 

O chefe ao presenciar isto, notou que o Zé Pretinho estava mesmo louco, e teria dito diante de todos os seus subordinados: "- Já vi que o Zé Pretinho está mesmo maluco".

Logo cuidou de encaminhar o Zé Pretinho até ao INPS, informando aos agentes que o mesmo estava maluco. E pelo o que ele presenciou, não era necessário exames comprobatórios. O homem estava mesmo maluco.

Deu certo as artes manhas  do Zé Pretinho, pois era tudo o que ele queria, aposentar-se e sair daquele inferno.

Em anos passados, quem não usava as suas espertezas para tirar proveito  do INPS, ficaria sem benefícios e a aposentadoria só depois que completasse a idade.

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Autor:
José Mendes Pereira

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