domingo, 14 de julho de 2013

Ter pena dos outros é sofrer por si e pelos outros

Por: José Mendes Pereira

Quando pedi minha demissão da empresa em que eu trabalhava, fui viver do comércio, no ramo de cereais, bebidas e outros mais que não podem faltar nas prateleiras de uma mercearia. Atividade esta que eu não tinha a mínima experiência. Vivi durante cinco anos do comércio, e posteriormente, tentei várias atividades, as quais não me deram bons lucros, mas deram para sustentar a minha pequena família.

Após o comércio, tentei outras atividades, como: proprietário de bar, de casa de jogo, possuí uma pequena fábrica de sabão, fui também rádio técnico, sendo que esta profissão eu tive que abandoná-la poucos meses de iniciada, porque alguns rádios chegavam à minha casa ainda falando, e quando saíam, alguns fregueses me reclamavam que o seu veículo de comunicação, estava falando fanhoso. Vendo que eu não servia para esta atividade, resolvi abandoná-la de uma vez por toda.

Exceto professor, a única profissão que mais demorei nela como patrão, foi a de serralheiro, mesmo já sendo funcionário público, permaneci por mais de 10 anos.

Quando eu era comerciante fui várias vezes enganado por fregueses, mas o trambique que mais me doeu, sem dúvida,  foi de um senhor que eu não o conhecia.

Certa feita eu me encontrava no meu pequeno comércio, quando de repente me apareceu um senhor baixo, moreno, cabeludo, de barba rala, aparentemente era homem do campo, puxando um 

cicerolajes.blogspot.com

jumento, e agarrados à cangalha uns caçoas, que serviam para transportar as suas mercadorias. De início, o homem conversou, conversou, tomou uma birita, mais outra, em seguida pagou-me, e depois abriu o jogo:

- Eu vim até aqui à sua mercearia ver se o senhor me vende fiadas umas coisinhas para eu levar para os meus filhos. Desde ontem que eles não comem nada, só bebem água, água; a mãe chora muito em vê-los com fome. São quatro filhos, todos capazes de caberem dentro de um balaio. Eu não tenho mais o que fazer. Ao vê-los com fome, fico me perguntando: Por que Deus me deu uma cruz tão pesada para carrega-la? Se o senhor fizer isso por mim eu estou com um milho para quebrar, e assim que eu vendê-lo, venho logo lhe pagar o valor das mercadorias que eu as levar.

Logo que ele me fez a proposta de imediato lhe disse que eu não tinha condições de fazer nada por ele, uma vez que eu não o conhecia, nem onde morava. Os poucos fregueses que eu tinha eram meus vizinhos, e se eu o fornecesse mercadorias, com certeza iria faltar para os meus fregueses.

Ele insistiu mais uma vez, mas eu conservei o que tinha dito antes, pois eu não podia vender mercadorias a quem eu não o conhecia. O homem montou-se no seu animal e foi-se embora, sem me dizer muito obrigado pelas minhas verdadeiras palavras.

Assim que ele saiu da minha mercearia eu me pus a pensar, colocando-me como se aquilo fosse comigo, meus filhos todos com fome, e eu não podia comprar nada para eles. 

E que alegria as crianças iriam sentir quando o avistasse já chegando bem perto de casa, dizendo uma para a outra: “-Lá se vem papai com alimentos para nós”. E de imediato fariam carreira para encontrá-lo.

Vai, seu Madruga! - José Mendes Pereira

Peguei a minha velha e surrada lambreta e tomei o caminho que ele havia seguido. Eu não sabia com certeza a direção, mas como eu estava no transporte, de qualquer jeito eu o encontraria.

Não demorou muito para eu o encontrar, porque ele seguia em uma estrada carroçável. E assim que eu o alcancei disse-lhe:

- Vamos buscar as mercadorias. Eu resolvi vendê-las, mas em uma condição. Assim que o senhor vender o seu milho, venha logo me pagar.

- Com certeza, seu moço! Sou um homem de palavra. Quando dou a minha palavra, ninguém desmancha.

Com a lista em mãos, fui colocando as mercadorias sobre o balcão, uma por uma, e anotando-as no meu caderno, inclusive o seu nome, onde morava...

O certo é que foi a primeira e última vez que eu vi este senhor. Nunca mais o vi nem de longe. O homem era um verdadeiro trambiqueiro.

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Autor:
José Mendes Pereira

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São trabalhos feitos com especial carinho para você, leitor.

Casa de Menores Mário Negócio, uma Instituição extinta - Parte II

Por: José Mendes Pereira

Meu amigo e irmão Raimundo Feliciano:

Os tempos se foram e nós continuamos aqui para contarmos o que se passou naquela Casa de Menores. Devemos agradecer de coração ao nosso grande Deus por ainda estarmos vivos.

Foto: Que coisa, hein!

Nos anos sessenta - Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira
Raimundo Feliciano e José Mendes Pereira

Alguns do nosso tempo já estão lá com Deus, como por exemplos: O Edivaldo, não me recordo bem, mas me parece que era de Areia Branca. 

O Francisco de Sousa, vulgo Nove, que trabalhou algum tempo em uma farmácia de Maria Menezes, na Rua Mário Negócio, este infelizmente tive notícias que fora assassinado. 

Antonio Pereira da Silva, vulgo Toinho, meu primo e irmão de Galdino. Este, eu o coloquei na Editara Comercial S/A, mas resolveu ir para São Paulo. Lá trabalhou na fábrica de lâmpadas Silvana. Posteriormente retornou a Mossoró, mas era asmático e certo dia faleceu. 

O Francisco Gutemberg, vulgo Trinta, chegou a ser engenheiro agrônomo, depois tentou medicina, mas não tenho informação se ele chegou a terminar o curso. Também já está com Deus. 

O nosso monitor, o José Fonseca (Zé Fonseca), que negociava ali próximo à Escola Estadual Jerônimo Rosado, dias antes da sua morte, eu estive em seu comércio, e eu não tinha informação que ele andava doente. Infelizmente  faleceu no mês de outubro de 2012. 

As empregadas, já se foi uma porção, e há dois anos passados, também se foi dona Tanô, a mãe do comerciante Nilson, estabelecido na Alberto Maranhão, em frente ao Mercado do Alto da Conceição. 

Dona Cristina de Tibãozinho, aquela que era zeladora da Casa de Menores, também já está com Deus. 

Outro que já se foi, o  Zé Dieb, primo legítimo de dona Caboquinha, e fornecia carne à Casa de Menores Mário Negócio. Este, você sempre gostava de aperreá-lo. Ele ficava irritadíssimo. 

Zé Maia, que fornecia bananas à Casa de Menores, e era casado com dona Socorro, filha de Elísio Vermelho, e cunhado da vice-diretora, a dona Severina Rocha, acredito que já faz uns quatro anos que faleceu.

O nosso grande amigo Willame (é assim que é escrito o seu nome), vulgo Tigá, sempre tenho contato com ele aqui no grande Alto de São Manoel, mas infelizmente ele tem vagas lembranças da Casa de Menores, e em nenhum momento ele recorda o meu nome. 

Willame sempre foi responsável onde trabalhava, e esteve na Brahma, na fábrica de cimento, e até fora premiado várias vezes, por ser um dos funcionários que frequentava a fábrica durante todo ano, sem nenhuma falta. Mas ele se dedicou sem controle à bebedeira, deixando-o esquecido.

Hoje vamos nos lembrar das serestas que fazíamos pelos bairros de Mossoró, em companhia de Manoel Flor, Tigá, Galdino, meu primo, e o grande cantor Francisco José, o Quarenta, com aquele vozeirão quebrava o nosso galho. Nós apenas tocávamos para ele, porque ele estava iniciando apontar algumas notas musicais. Ele é primo legítimo da cantora Amanda Costa. Francisco José teve oportunidade de gravar, sendo Amanda Costa a sua madrinha, mas devido a sua timidez, não chegou a gravar nenhum LP.

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Lembro-me que nesta noite, fomos fazer uma seresta lá no bairro Boa Vista, na casa de uma das suas namoradas. Acompanhados de violão, mais uma garrafa de pinga, cigarros..., chegamos ao local. 

Silenciosamente, abanquemo-nos na calçada. Quando o nosso cantor Francisco José abriu a boca e o vozeirão saiu, alguém abriu a porta. Era o pai da sua namorada, que nós pensávamos que ele iria nos mandar embora da sua calçada.

Mas não era isto que ele queria fazer. Veio, e na mesma calçada, sentou-se ao nosso lado. Francisco José, como era tímido, não quis continuar a canção. Mas o velho nos disse que estava ali para ouvir aquela bela voz do cantor, e não para nos mandar embora.

Ali, ficamos até altas horas da noite, acompanhados do pai da sua namorada, que mesmo sabendo que você estava perseguindo a filha dele, nos apoiou com muito respeito.

Na próxima história falarei dos nossos sofrimentos no Tiro de Guerra de Mossoró.

Continua...
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