quinta-feira, 30 de abril de 2015

O REI LAMPIÃO E O CORONEL JOAQUIM RESENDE

Por José Mendes Pereira 
 À esquerda, coronel Joaquim Resende - à direita, Melchiades da Rocha

Conta o escritor Alcindo Alves Costa em seu livro: “Lampião Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”, que o rio São Francisco foi um grande agasalhador do povo sertanejo. E lá, o povoamento foi se formando nos alarmados declives de sua margem. 

Já no ano de 1611, um minúsculo povoado nascera lá, onde os sofridos sertanejos construíram as suas barracas, na intenção de sobreviveram através da pesca, uma vez que as dificuldades alimentares eram presentes. Como o rio era favorável à pesca, mesmo faltando-lhes outros alimentos necessários à sobrevivência, todos preferiam viver ali mesmo, no intuito de não morrerem de fome em outras regiões. E nessa época, o lugarejo pertencia ao município de Mata Grande, conhecido em todas as regiões adjacentes por Jaciobá. Os tempos foram se passando, e a cada ano eram construídas mais casinholas, fazendo com que o lugarejo fosse se expandindo gradativamente. E no ano de 1881, no dia 18 de junho, através da lei nº. 756, finalmente o lugarejo foi emancipado, tomando posse como primeiro intendente, ou seja, prefeito, um senhor chamado Serafim Soares Pinto. E assim que passou a ser cidade, começou a se desenvolver mais ainda, tornando-se um importante município nas terras alagoanas. Mas posteriormente, este valoroso município passou a ser chamado definitivamente de Pão de Açúcar. 

E já no século XX, o município passou a ser comandado pelo coronel Joaquim Resende, um senhor de grande força política que chegou a ser odiado por alguns e admirado por outros. Era um homem rancoroso ao extremo, uma vez que não temia a ninguém. Mas apesar de ter seus adversários, mesmo assim, era um homem muito respeitado por todos que moravam lá, e pelos povoados adjacentes. O coronel Joaquim Rezende tinha as suas intrigas, tendo como inimiga, a família Maia, uma das mais tradicionais que também não se rendia ao patenteado.
           
No ano de 1935, dois rancorosos e poderosos, pela primeira vez se encontraram, ambos patenteados. Por um lado, o poderoso e zeloso da sua patente militar, o coronel Joaquim Resende. E pelo outro, o afamado e considerado o governador dos sertões, o amante das armas, o capitão Lampião. No encontro marcado para os afamados, a única finalidade era discutirem os desejos de ambos, como donos da lei.           
Como Lampião queria na força e na raça ser governador do sertão, e Joaquim Resende achando que o rei não podia lhe dar ordem, o assecla se sentindo desprestigiado, organizou uma maneira de atormentar a administração de Joaquim Resende. E sempre que colocava os pés naquela região sertaneja, fazia invasões, com depredações e ainda praticava mortes. 

Sendo disposto e exigente com a sua soberania, o coronel Joaquim Resende dizia abertamente, que os arrufos de qualquer ser humano não lhe metiam medo. E nem tão pouco de cangaceiro, assim como Lampião.
                                                            
Como o rei ficou chateado com o que dissera o oficial contra a sua pessoa, resolveu fazer uma perseguição a alguns dos seus amigos. E assim que principiou o ataque aos amigos do coronel, este não querendo deixá-los sozinhos, isto é, entregue às vontades do perigoso Lampião, passou a apoiar as decisões que os seus aliados tomavam contra o assecla.
                                               
Com a decisão tomada por Joaquim Resende, tanto os amigos do patenteado, como os do outro, o  rei Lampião, ficaram bastante preocupados, afirmando que se o oficial não medisse as palavras que soltava ferindo o rei, a vingança não tardaria acontecer. E a partir dessa desavença entre os poderosos, os protetores das duas autoridades deram início a uma forma de a quieta, a quieta, na finalidade de acabarem com a briga entre as suçuaranas humanas. O medo que eles tinham era se Joaquim Resende continuasse usando certos termos desrespeitando a majestade, uma vez que este não o perdoaria, e com certeza a sua vingança seria devastadora. 

Na verdade, quem não quisesse ser desmoralizado ou derrotado, não adiantava criar problemas com Lampião, pois além de ser destemido, era altamente perigoso e vingativo. E quando não conseguia dominar os seus inimigos e perseguidores, iniciava uma destruição em massa, sem reservar ninguém e nem a quem, tentando vencê-los na força, com combates e na coragem. Mas era do conhecimento de todos, que o rei Lampião sempre dizia: 

“-Tenho respeito por juízes e coronéis. E só brigo com estes patenteados, quando eles querem, pois se depender de mim, eu não brigo”.                                                                   

Mas como em todas as brigas tem sempre uma pessoa que faz o papel de sossega leão, um senhor chamado Zuza Tavares, foi um dos incumbidos pelos amigos para resolver a questão entre os dois indomáveis leões. 

Os amigos de ambas as partes marcaram uma reunião, e decidiram que o importante para os dois se entenderem, seria organizar um encontro entre as duas feras humanas. 

E quando seria este encontro? Logo no início do ano de 1936. E o local do encontro?  Na Fazenda Floresta, lá nas terras sergipanas, no Maitá, já que o rei e sua respeitada saga estavam de redes armadas e cachimbos acesos naquele lugar. E quem ficaria encarregado de providenciar o transporte até a fazenda? O grande honrado para adquirir o transporte foi um senhor chamado Messias de Caduda. E qual seria a locomoção que o famoso rei iria até a casa do coronel Joaquim Resende? Lógico que seria em uma bela e zelada canoa, já que no lugar não tinha iates, barcos ou outra coisa parecida. E de quem seria esta canoa? A de um senhor de nome João de Barros. Apesar de ser pescador, era um homem de grande confiança. Este foi o confiado para levar o rei ao encontro do coronel. E sem muita demora, foi feito o contrato do aluguel da canoa para este fim.                                               

João de Barros se sentindo importante, por ter sido escolhido para transportar a majestade, deu início a uma grande limpeza no honrado transporte, tirando o excesso de salmouras de peixes entre as tábuas. Afinal, nele iria entrar um dos homens mais importantes do nordeste. Depois o higienizou com um cheiroso detergente. E em seguida partiu para o local combinado. Canoa pronta, sua majestade dentro dela. E sem mais tardar, João de Barros remou o belo transporte em direção a Pão de Açúcar, até a Fazenda Floresta.    

Mas, desconfiado, sagaz e cuidadoso com a sua vida e as dos seus comandados, o rei Lampião achando que poderia existir alguma armadilha na fazenda Floresta, antes de chegarem ao local combinado, mandou que o João de Barros encostasse a canoa à beira do rio. Este obedeceu a sua ordem. O assecla incumbiu que o Messias descesse e fosse até a fazenda Floresta, e lá fizesse uma rigorosa vistoria, olhando todos os cômodos da casa, revistasse tudo, tim, tim por tim, tim. Assim que terminasse a revista por dentro da mansão, fosse vistoriar as suas laterais, e não deixasse nada por revistar. E ainda o rei o advertiu que não queria nenhuma novidade inesperada, pois se isso acontecesse contra ele e os seus asseclas, Messias já sabia muito bem que ganharia uma penalidade horrorosa. Ou o rei o mataria com um tiro, ou o enfiaria o seu longo punhal na sua clavícula.
                                                              
Messias ao entrar na casa, deu início à revista.  E enquanto fazia a revista, olhou para um dos lados e viu um senhor que pelo seu jeito de se vestir, pareceu-lhe ser  uma autoridade. E era mesmo. Sem dúvida, o coronel Joaquim Resende, o grande e respeitado oficial. O Messias que ainda não o conhecia, depois de algumas conversas, pediu que o perdoasse por ter entrado ali sem a sua generosa autorização, e alegou que era ordem do capitão Lampião para revistar o ambiente.   

O coronel Joaquim Resende não tendo nada a opor, disse-lhe que Lampião tinha razão, pois ele estava mais do que certo. È claro que o coronel não iria tirar a razão de Lampião, em mandar alguém para uma averiguação, pois a majestade precisava de proteção, tanto para ele como para os seus comandados.  E sem querer usar os seus poderes, apesar de ser uma autoridade, disse ao coiteiro que naquele momento aquela mansão estava entregue a ele. Autorizando-lhe que percorresse todos os cômodos e dependências, inclusive revistasse as laterais da residência.  Terminada a revista, o Messias retornou ao local onde estava a majestade e os seus valiosos asseclas.                            

Mas o capitão Lampião podia ficar tranquilo, pois coronel Joaquim Resende e os seus comandados não eram covardes para prepararem uma armadilha contra ele. O que ali iria acontecer era simplesmente um acordo entre os dois arrogantes, e jamais seria feita uma traição. O rei quando dava uma palavra, cumpria. E por que Joaquim Resende não poderia cumprir a sua? Assim que o coiteiro retornou à presença do rei, ainda meio preocupado com a segurança, e  não acreditando, Lampião exigiu que o coronel fosse até a beira do rio São Francisco onde ele se encontrava.                                             

Não temendo o chamado, mas o respeitando, Joaquim Resende dirigiu-se para o local sem se sentir inferiorizado e sem nenhum problema. Na hora do encontro, todos foram abraçados pelo assecla, principalmente o patenteado. Em seguida, tomaram rumo ao palacete do oficial. Lá, foi necessário que o Zuza Tavares se retirasse do local, pois Lampião precisava conversar com o coronel, um assunto a dois.  A reunião muito se demorou, e só terminou lá pela madrugada. E com certeza, o assunto foi de grande interesse entre os poderosos.                                               

Diz o escritor Alcino Alves Costa que quando terminou o encontro, os amigos de ambas as partes se sentiram realizados, uma vez que as queixas de Lampião contra o pessoal do coronel Joaquim Resende, principalmente uma que ele tinha com um fazendeiro de nome Juca Feitosa, as rixas antigas foram dispensadas e jogadas no assombroso rio São Francisco.  E as amizades, reconquistadas.


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