quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Churrascaria Esquinão

Por: José Mendes Pereira

Todo mundo quer comércio, mas muitos deles não têm a mínima ideia o que é comércio. Aquele que ganha muito dinheiro comercializando é porque já nasceu para ele, e mesmo que não saiba atender bem a sua freguesia, o comércio ensina-o e o protege em tudo, dando-lhe lucros exorbitantes. Todo mundo quer comércio, mas o comércio só aceita aqueles que ele simpatiza.

Jonas da Churrascaria Esquinão como era o nome de fantasia do seu comércio, viveu por muitos anos deste ramo. No início desta atividade o Jonas era agradável, simpático, ajeitava o seu cliente de acordo com o que ele merecia. Emprestava-lhe dinheiro caso necessitasse, fazia vales, colocava no espeto as melhores carnes de boi, cerveja de boa marca, refrigerante bem geladinho, e antes de entrarem para a geladeira, recebia um tratamento excepcional, limpando-os, higienizando-os zelando pelo seu freguês. Mas com o passar dos tempos, já com os bolsos cheios de dinheiro, o Jonas já não mais se preocupava com estes cuidados, não fazia mais o que antes fazia. Já com uma freguesia cativa, Jonas começou a por regras na sua churrascaria. Não aceitava charutos queimados dentro dela, não aceitava jogos de azar sobre as mesas, não aceitava por por hipótese alguma, que fregueses puxassem mesas de um lugar para colocar em outro. 

O Jonas que havia começado pobre, sem orgulho, balançando tudo o que era de freguês, agora já não mais precisava estar se humilhando a ninguém.

 
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Já era dono de carro do ano, proprietário de um belo sítio, criando boas vacas leiteiras, e vez por outra, montava no seu mimoso cavalo manga larga, para desfrutar do que o mundo estava lhe oferecendo. O Jonas já se encontrava em boas situações financeiras.

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De todas as regras que o Jonas colocou em sua churrascaria uma delas, a freguesia não estava gostando. Era não aceitar homens entrarem no ambiente apenas vestidos de bermudas, sem camisas; e estas mesmas regras foram delegadas para as mulheres, que não podiam entrar com shorts curtos, com blusas decotadas além do normal...

Mas estas regras do Jonas do Esquinão aos poucos foram chegando aos ouvidos de outros que nunca haviam passado por lá, mas que desejavam conhecer a churrascaria Esquinão, e principalmente o dono, o criador das ridículas regras.

No início do ano de 1978, a prefeitura ainda patrocinava o carnaval em Mossoró, mas apenas à noite, e não existia o frevo carnavalesco até ao raiar do dia.

 
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Um dos foliões que havia chegado de Pernambuco com um amigo e  quatro amigas, justamente para brincarem e aproveitar as poucas horas que a prefeitura de Mossoró oferecia aos seus foliões, e aos que procuravam esta cidade, tomando conhecimento da Churrascaria do Esquinão, e as regras que o dono havia colocado, resolveu fazer uma visitinha com o amigo e as mulheres, os quais lhe acompanhavam desde a saída de Pernambuco.

Já passava da meia noite, e na churrascaria Esquinão, isto é, do Jonas,  havia uma pequena quantidade de pessoas, e naquele momento os dois foliões usavam somente bermudas, e as mulheres com shorts bem curtinhos, mostrando as polpas das nádegas.

 
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Os foliões foram logo avisados por um curioso que se encontrava fora da churrascaria, que com aqueles trajes escandalosos o dono não permitia a entrada. E se caso ele não visse a entrada de freguês quase nu no ambiente, não serviria nada na mesa, nem cervejas, nem refrigerantes e nem tão pouco refeições. Mas mesmo assim, entraram e lá se sentaram.

O Jonas ao ver aquele desrespeito, já saiu com quatro pedras nas mãos, que eles fossem vestir as roupas, e depois retornassem que seriam servidos. Mas daquele jeito, não seriam atendidos.

Concordado. O mais irritado folião levantou-se e foi até ao carro  para apanhar as roupas de todos. E se o folião foi às pressas, às presas ele retornou, trazendo consigo algumas peças de roupas, colocando-as sobre a mesa. Desenrolando-as, arrastou um revólver e deu início a uma espécie de humilhação contra o Jonas.

- Ponha cerveja aqui em cima da mesa, seu velho imbecil! – Dizia o folião aos gritos. Sirva carnes assadas, e nós a queremos da melhor!

Quando o Jonas viu o revólver apontando para si, caiu em covardia, dizendo:

- É agora mesmo, seu moço! Farei o que o senhor quiser!

O Jonas estava tremendo de medo, e o folião tremia de raiva, ódio ou outra coisa semelhante.

- Eu sou sobrinho de Lampião, seu peste! Eu estou com vontade de fazer o que ele fez com o Batatinha, capou-o. E é o que você merece, velho safado! - Dizia o folião em gritos.

 
Este homem foi capado por Lampião - portaldocangaco.blogspot.com

Esta ameaça de capá-lo fez com que os que ali estavam pedissem ao folião que não fizesse isto, porque ele era um homem que merecia viver normalmente como qualquer outro.

- Tá bom! Tá bom! Eu vou mudar o castigo. Eu vou decepar a sua orelha, assim como fez o meu tio Virgulino Ferreira da Silva. Decepou a orelha do Zé do Papel.

Zé do Papel - Lampião decepou a sua orelha

E já foi segurando a orelha do Jonas, já com uma faca de mesa na mão para deixá-lo lambi.

O Jonas gritava e chorava ao mesmo tempo. E os presentes, novamente imploraram, para que o folião não fizesse aquilo. Era uma malvadeza, decepar a orelha do homem.

O Louro, um dos que havia passado vergonha na churrascaria, quando certa vez  fora cobrado e espancado pelo Jonas, por não ter pagado uma conta, ao passar e presenciar as humilhações contra ele, parou e ficou dizendo: "- Capa-o que eu quero ver! Deixe este safado sem os manecos. Corta a orelha deste desgraçado, mestre! Deixe-o com uma cabra lambi. Só assim ele me paga o que fez comigo, cobrando e me batendo diante de todo mundo!"

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- Tire as bermudas, mulheres!  - Ordenava o nervoso folião para suas amigas. Fiquem só de calcinha e sutiãs! Para este safado ficar sem moral na sua churrascaria! Gente que não presta merece tudo de ruim! - Esbravejava o folião.

O irritado folião, que na verdade só ele era quem castiga o Jonas, podia fazer o que bem quisesse, porque a polícia não iria aparecer ali de jeito nenhum. O único telefone que tinha para estas ocorrências, a delegacia não pagou a conta, sendo obrigado a Telern interromper a linha.

Depois de todas estas ameaças, o Jonas não sossegou um só instante, com pratos, cervejas, refrigerantes, carnes assadas nos espetos servindo aos foliões, principalmente ao cobrador de justiça.  Isso  às carreiras dentro da churrascaria. Suado, já cansado, com a língua de fora, babando..., e ainda dizia para sua esposa Maria:

- Ajuda-me Maria, pelo o amor de Deus!

- Você que inventou as suas regras e agora está sendo cobrado, que se vire! Não me meta nesta confusão!

As ajudantes da churrascaria estavam nervosas, e até uma desmaiou por cima de um fogão, sendo medicada ali mesmo, com laxantes.

Depois de meia hora de sufoco que passou o Jonas, o principal castigador, estava satisfeito. Já era hora de ir embora. E já com pena do Jonas, chamou-o e disse:

- Traga-me a conta. Eu devia não pagar. Mas como eu sou uma pessoa boa, vou lhe pagar direitinho, Mas nunca mais desrespeite os seus clientes, ouviu sua égua?

- Sim senhor! Sim senhor!- Fez o Jonas.

O Jonas trêmulo fez a conta e o entregou. E sem muita dificuldade, o folião pagou tim, tim, por tim, tim. E em seguida mandou que todos ocupassem o carro, pois já iriam embora.

Tudo pronto. O exaltado folião saiu deixando o revólver sobre a mesa de presente para o Jonas.

- Este revólver é para você, malandro!

Só que o Jonas não teve o prazer de usá-lo contra os foliões. Segurou o revólver, apertou o gatilho contra os foliões que se despediam satisfeitos com as desordens. Mas o danado não disparou. O revólver era perfeito, mas apenas de brinquedo.

- Que desgraçado vem me aparecer aqui hoje!




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Fonte:
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Autor
José Mendes Pereira 

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