quinta-feira, 23 de abril de 2015

MOSSORÓ AOS POUCOS VAI FECHANDO AS SUAS FÁBRICAS


Outro dia eu disse a alguém que, Mossoró quando não pode construir, ela destrói. Mas a pessoa não gostou da minha sinceridade, e findou me dizendo que: "o que é velho tem mesmo que ser destruído". Eu falava em relação aos prédios que deveriam ainda existir, como por exemplo: Pavilhão Vitória, no centro da cidade, e que foi destruído sem precisão. O certo é que todos os prédios que foram derrubados em Mossoró, contavam uma história, um passado sobre os nossos antepassados.

Pavilhão Vitória - Mossoró - www.azougue.org
Pavilhão Vitória - Mossoró - www.azougue.org - Ano: 1950
Fonte: blogdogemaia.com 

Mossoró já teve várias fábricas de diversos produtos, mas infelizmente tudo isso desapareceu da noite para o dia, sem que ninguém do poder público, tivesse interesse de preservar a história de Mossoró, a amada terra dos índios Monxorós.

Leia o que escreveu o jornalista e historiador Geraldo Maia do Nascimento, sobre as fábricas de óleo de caroço de algodão e oiticica, que já existiram em Mossoró:


Fogo morto

Todos os dias, a caminho do trabalho, sigo pela Av. Alberto Maranhão, no trecho que corta o bairro Alto da Conceição. E ao passar nas imediações do velho mercado público, sempre olho para uma chaminé defunta, de fogo morto, que desafia bravamente os anos com sua opulência, como uma torre medieval. De sua boca não brota mais fumaça, símbolo de desenvolvimento e progresso, pois essa chaminé é tudo que ainda resta de uma indústria falida, de paredes destruídas, cujas lembranças a poeira do tempo cobriu.

Por curiosidade, passamos a pesquisar sobre a fábrica que ali existiu. Mas, infelizmente, muito pouco conseguimos saber sobre ela. Apenas que era de beneficiamento de óleo de caroço de algodão e que pertencia a Antônio Freire Néo. Seu Antônio Néo, como era mais conhecido, tinha sócios nessa firma, que eram José Fernandes de Souza, o Deca Fernandes, e o Leotônio Ferreira Néo. Isso foi tudo que conseguimos saber sobre a fábrica.

Essa velha torre, guardiã do passado, nos faz voltar ao tempo, numa época em que Mossoró viveu o seu apogeu comercial e industrial. Era uma época em que o meio de transporte mais comum eram os comboios de animais, tangidos por tropeiros, que aqui chegavam carregados de algodão e outros produtos para serem beneficiados em Mossoró. Era o auge da agroindústria algodoeira, fábricas de óleo de caroço de algodão, óleo de oiticica, beneficiamento de cera de carnaúba, algodão e agave.  O beneficiamento desses produtos, associado à extração de sal, é que deu a Mossoró uma feição de centro industrial.

Várias indústrias existiram ao longo da Av. Alberto Maranhão, como a de seu Néo. A firma S/A Mercantil Tertuliano Fernandes, fabricante do Óleo Pleno Refinado, produto extraído de caroço de algodão, ocupava uma vasta área na rua Frei Miguelinho, limitando-se com a Alberto Maranhão e a rua Rui Barbosa. Mais adiante, ainda na Alberto Maranhão, onde hoje funciona um escritório da Telemar, existia a Companhia Industrial e Comercial de Óleo S/A. Essa empresa funcionou até 1972. Outra empresa existente na mesma rua, do mesmo ramo de exploração, era a Brasil Oiticica, que ficava em frente ao chamado Largo do Jumbo, pertencente a um grupo estrangeiro. Essa empresa, posteriormente, passou a ser a Alfredo Fernandes Sementes Oleagenosas, cujas ruínas existiram até pouco tempo, inclusive a chaminé, que só recentemente foi demolida para dar lugar a um moderno edifício. Essas indústrias citadas ajudaram a marcar o pioneirismo do desenvolvimento industrial, impulsionando o mercado comercial de Mossoró e região.

Hoje pouco resta dessas fábricas que tão útil foram para Mossoró. Só a velha chaminé da fábrica de óleo de seu Néo, que teima em permanecer em pé, como se aguardasse que alguém, algum dia, viesse escrever a sua história, pois como diriam os sábios, “verba volant, scripta manent”, ou seja, as palavras voam, os escritos permanecem.

http://www2.uol.com.br/omossoroense/241203/nhistoria.htm

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