quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

JOÃO CAMBRAIA - OLHO VIA, MÃO PEGAVA

Por: José Mendes Pereira 

João Cambraia era o seu apelido. Para falar a verdade eu nem sei o seu nome de batismo. Primo segundo de minha mãe, Antonia Mendes Pereira. Astucioso todo e desonesto até o sorriso. O que os olhos viam as mãos pegavam. Ladrão de quinta classe, ou quem sabe, de sexta, sétima..., principalmente de galinha.

Nesse tempo em que ele frequentava a casa da minha mãe eu ainda era criança, talvez dez, onze... anos.

João Cambraia vivia mais preso do que solto por pequenos roubos. Quando se livrava da cadeia de Mossoró, apanhava o velho e cansado pinga-pinga, e se mandava para a capital de Natal, e lá praticava as mesmas desonestidades.

Quando os poucos moradores da “Barrinha” sabiam que o João Cambraia estava no pedaço, cuidavam de esconder valores e tudo de mais importância. João Cambraia não merecia confiança; aonde chegava era necessário um vigia para acompanhá-lo, pois ele roubava até saco de esterco, só para ter o prazer de furtar.

Certo dia, era um domingo, mais ou menos seis hora da manhã, chegou o João Cambraia em minha casa, afirmando à minha mãe que aquela vida de roubos havia deixado. Todo metido num uniforme de sargento; cabelo à moda militar, e, como prêmio, dizia ele, havia recebido da polícia militar, a patente de “sargento”.

- Toinha, - era como ele chamava a minha mãe - aquela vida de malandragem, graças a Deus - dizia colocando as mãos postas para o céu - eu deixei, e de agora em diante prima, você não vai mais passar vergonha por mim. Sou sargento da polícia – afirmava ele retirando uma identidade com a sua foto.

- Felicidade para você, João! E que Deus conserve a sua patente de "sargento".

Durante o dia ninguém mais fez vigilância a João Cambraia. Também pudera! Sargento da polícia. Sim senhor! Para que mais acompanhar uma autoridade? Um homem que prende os delinquentes, os marginais? Ora! Um homem que agora era sargento, todo metido num uniforme, com um gorro meio pendido para um dos lados, e um emblema distinguindo a sua patente?

E foi-se o dia.

Ao anoitecer, João Cambraia apoderou-se de uma rede, armou-a sob o alpendre, só ouvindo os conselhos das pessoas que costumeiramente frequentavam a casa de meu pai. Ali, João Cambraia só ouviu elogios, pela sua boa vontade de ter deixado aquela vida, de nunca mais está trancafiado; ao contrário, agora seria ele quem iria prender, açoitar, judiar até o réu confessar o seu erro... Cada conselho, uma porção de aplausos surgia no alpendre. Elogios. Aplausos. E não?

O meu pai fora o primeiro no lugarejo a comprar um rádio AM, de duas faixas, “ABC”, feito de madeira de boa qualidade. Apesar do atraso da nação era lindo para época. Muito bem fabricado. Havia vendido uma porção de bodes para ser possuidor daquele comunicador.

Já havia se passado a voz do Brasil, e o rádio, além da presença de João Cambraia, foi um dos divertimentos aos presentes. Ouvindo o Bazar da Alegria, apresentado pelo saudoso Aldenor Evangelista Nogueira.

Vamos conhecer o Aldenor Nogueira? Logo voltaremos à nossa história.

 Aldenor Evangelista Nogueira - um dos maiores radialista de Mossoró

Aldenor Evangelista Nogueira, cearense de Cascavel e nascido em 18 de agosto de 1922, faleceu em Mossoró-RN, na madrugada do dia 22 de abril de 2003.

O veterano radialista, que chegou a Mossoró em companhia dos pais aos três anos de idade, enfrentava há meses problemas cardíacos.

Aldenor, apesar de ter nascido no vizinho Estado, disse certa vez que uma das maiores honras de sua vida era ter sido registrado como mossoroense.

Além da militância no rádio, Aldenor Nogueira teve um início de vida de muita luta e sacrifício oportunidade em que vendeu jornais, foi professor de alfabetização de adultos do Tiro de Guerra e no 2o. Batalhão de Polícia Militar, ambos sediados aqui na cidade, e foi subchefe do Juizado de Menores.

Possivelmente um dos seus grandes feitos, claro e logicamente o de ter criado 21 filhos – dos quais 20 ainda estão vivos entre eles, dois coronéis da gloriosa e amada Polícia Militar: JANIO REGIS NOGUEIRA (2/5/1957) e JOÃO NOGUEIRA NETO(31/5/1956) – foi ter se apresentado como voluntário na época da 2a. Grande Guerra Mundial.

Isso muito o orgulhava, mesmo que de imediato tenha sido rejeitado comocombatente, mas pouco tempo depois foi convocado e serviu em Natal.

Vamos continuar a nossa História?

Pouco tempo, um aviso. O locutor anunciava o seguinte:

"Atenção população de Mossoró! Quem souber o paradeiro de João Cambraia, por favor, comunique ao comando geral da polícia militar, em Mossoró, pois o mesmo furtou o uniforme do sargento Delmiro em Natal”...

Ali, os presentes caíram de vez. Tantos elogios perdidos. Mas o João Cambraia foi esperto, afirmando ele que era brincadeira da emissora, pois um dos locutores já havia lhe comunicado. E volta-se a acreditar no João Cambraia.

A conversa entre a vizinhança continuou.

Daí a pouco, João Cambraia se levantou da rede, e saiu se escorregando em busca da cozinha.

Minutos depois.

E o João Cambraia? Que João Cambraia que nada! Entrou nas matas. Adeus, Toinha! Nunca mais minha mãe teve o prazer de ver João Cambraia.

João Cambraia foi morto em Natal, quando tentava roubar uma residência. O dono da casa acordou, sentiu o chiado de telhas, mirou e atirou, descendo o infeliz já morto.


Minhas Simples Histórias

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Fonte:
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