quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Fransquinho Vasconcelos - Livraria e Tipografia Nordeste

Por: José Mendes Pereira
Dona Terezinha, -esposa - Fransquinho Vasconcelos, Vasconcelos  Neto e Silvia --1956

Era um homem de  admirável simplicidade. Educado, calmo, que atendia as pessoas com um simples gesto de boas vindas. Filho de uma grande personalidade de Apodi, mas radicado em Mossoró, o escritor, poeta e jornalista José Martins de Vasconcelos.

Lembro-me bem onde funcionava a sua primeira Livraria e Tipografia, ao lado do Banco do Brasil,  próxima ao antigo Cine Cid, na Rua Coronel Vicente Saboia, e  posteriormente na mesma rua, construiu um prédio, e lá se estabeleceu até os seus últimos dias de vida. 

Nunca foi homem de luxo, apenas organizava o seu comércio: um birol pequeninho feito de pereiro e envernizado, onde guardava todos os seus documentos, notas fiscais, talões...

Nos anos sessenta e setenta eu era tipógrafo na Editora Comercial S/A., e através de contatos gráficos, fiz amizade a ele. Deixando a vida gráfica, as nossas amizades cresceram mais ainda, quando fui prestar os meus serviços públicos ao Estado-RN, numa escola, cujo patrono é o seu pai, José Martins de Vasconcelos.


Jornalista José Martins de Vasconcelos

Ele querendo que o nome do seu velho pai fosse zelado e seguisse mais adiante, fazia panfletos para serem entregues na escola, todos levados e distribuídos aos alunos por mim. 

A história que segue não foi ele quem me contou, mas segundo os gráficos mais antigos, já falavam o que havia ocorrido na sua tipografia. 

Fransquinho Vasconcelos tinha um dos seus empregados que muito o paparicava. Por mais que existissem homens honestos, para ele, não serviam para lavar os pés do seu grande e honesto profissional. 

No final de semana, sábado à tarde, era do costume o empregado fazer bicos (horas extras), em sua tipografia. Enquanto Fransquinho Vasconcelos organizava os seus documentos de trabalho, o operário permanecia lá dentro da oficina, fazendo as suas impressões tipográficas, isto no sentido de adiantar os pedidos  para a semana entrante.

Mas geralmente aos sábados, desaparecia dinheiro da sua gaveta, e, como tendo total confiança no seu empregado,  jamais imaginou que poderia ser ele que o roubava. E os desaparecimentos de dinheiro continuavam sem ter a certeza quem seria o larápio.

Já cansado de ser assaltado, idealizou uma simples e bem pensada ideia, para descobrir quem seria o ladrão que o roubava. Comprou um chocalho, não tão grande, mas médio, e montou-o sob a gaveta onde ele guardava os seus valores.

Nessa tarde, depois de pronta a armadilha, foi lá dentro da oficina e disse ao empregado que iria dar um dedinho de conversa com os amigos, lá na praça da Catedral. Geralmente, lá estavam: Jorge Pinto, proprietário do Cine Pax, Seu Medeiros, da Casa Medeiros, Seu Ferreira, da Casa Ferreira, Odílio Pinto, seu contador, e outros e outros comerciantes se divertiam por lá.

Mas Fransquinho Vasconcelos em vez de ir à  viagem escondeu-se por trás de um monte de caixas com livros que iria ser colocado nas prateleiras, e lá ficou observando quem iria lhe roubar.

Como o empregado não imaginava que o velho patrão tinha preparado uma armadilha para pegar o ladrão do seu dinheiro, parou a máquina impressora, foi até a sala, em seguida dirigiu-se até a porta que saía para rua, para ter certeza que  Fransquinho Vasconcelos tinha ido a dita viagem, e vendo que o patrão havia ido mesmo, voltou, abriu a gaveta, assustando-se com o trim-trim do chocalho.

Desconfiado,  em vez de retornar à oficina, e sentindo vergonha da sua própria fraqueza, e não imaginava que o patrão se escondia por trás das caixas, foi tentar disfarçar o seu erro entre elas. Mas se enganara! Quando tentava se ocultar por ali, viu o patrão banhado de tristeza, por saber que quem o roubava era o seu homem de confiança.

Ao vê-lo ali escondido, disse-lhe:

- Que vergonha seu Fransquinho! Que vergonha!

- Muito mais vergonha sinto eu, - dizia Fransquinho Vasconcelos trêmulo e sentindo piedade do miserável, - pois jamais eu imaginei que você fosse capaz disso. Mas não vou te demitir. Você vai continuar trabalhando nesta gráfica. Se eu te demitir, aqueles teus filhos irão todos morrerem de fome, e eles não têm culpa da sua fraqueza. Leve sempre para sua casa coisas adquiridas através do teu suor, para ensinar a teus filhos o caminho da vida sem decepções. Se você continuar assim, estará ensinando aos  teus próprios filhos a serem desonestos, e daí a pouco estarás comendo do roubo que teus filhos furtaram. E o fim será cadeia  para pai, filhos e mais nada.

Até onde eu sei o homem não quis mais ficar trabalhando na empresa, abalando-se de Mossoró com toda sua família. Nunca mais foi visto nesta cidade. 

Minhas simples histórias

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Fonte:
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Autor:
José Mendes Pereira

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