sexta-feira, 31 de maio de 2013

O CAVALO STAR BLACK

Por: José Mendes Pereira

João Teotônio da Silva era cearense, mas viveu em Mossoró, até os seus últimos dias de vida. Chegara aqui ainda garoto, quando o seu pai, o velho Marcinho veio trabalhar na firma algodoeira “Alfredo Fernandes”.

João Teotônio cresceu no bairro da Lagoa do Mato, trabalhando como zelador de cavalos de corrida. Apesar da profissão que exercia, nunca participou de vaquejadas, e nem de derruba de gado nos tabuleiros. Era obcecado por cavalos, principalmente cavalo preto, Star Black, como chamava ele. Os tempos foram se passando, e nunca tirou da mente, de um dia ser proprietário de um bom e lustroso cavalo. Mas só queria se fosse preto, tinto.


Já casado, morando à beira da estrada que leva até à cidade Governador Dix-sept Rosado, vivendo de uma pequena criação de gado miúdo: suíno, caprino e ovino, João Teotônio fez economia, e dois anos depois, era dono do mais famoso cavalo da região. Assim que o comprou,  ensinou-lhe a deitar-se, a levantar as patas dianteiras, a cumprimentar as pessoas que o assistiam, correr rodopiando, relinchar agradecendo aos que presenciavam ao espetáculo.

sobrecavalos.blogspot.com

Tinha um cuidado exagerado ao seu cavalo,  e até a água que o animal bebia, era guardada em cisterna, e   antes de lhe dar de beber, era passada em melhores filtros.

João Teotônio orgulhava-se quando passeava pelas ruas de Mossoró, montado no seu belo animal, recebendo os olhares dos curiosos e invejosos, que


ouviam o toc, toc no calçamento, causado pelas ferraduras aparafusadas nas patas do seu cavalo. Teotônio todo enfiado num uniforme de cor preta, até aparentando  o cavaleiro Star Black. Ali se sentia um dos mais admirados homens de Mossoró.  Nem o prefeito da cidade era tão importante quanto ele.

Certo dia, ao clarear, dirigiu-se até ao estábulo onde o cavalo dormia.


Ao chegar, encontrou a porteira aberta, e o Star Black não estava lá. Desesperado com o desaparecimento do cavalo, danou-se pelos campos da pequena propriedade, mas não o encontrou. Saiu pelas fazendas vizinhas, em busca de informações sobre o paradeiro do animal, mas ninguém o viu.

Os dias foram se passando, e João Teotônio continuava sua luta pelos campos e fazendas, para ver se recuperava o seu famoso cavalo, mas não recebera nenhuma informação. Desconfiado que se tratava de furto, e sabendo que se não fizesse algo diferente não seria tão fácil recuperá-lo, inteligente, organizou um aviso:

"Atenção moradores de Mossoró e das cidades adjacentes! Sou um fazendeiro que reside na cidade de Pau dos Ferros-RN, e querendo comprar um cavalo  de cor preta, totalmente preto, gordo, bonito, famoso, que já seja acostumado a usar ferraduras, sem marcas de ferros no corpo, sem orelhas assinadas, favor comunicar a Rádio Difusora de Mossoró, localizada à Rua Alfredo Fernandes, nº 271, fone: (****), que a mesma entrará em contato comigo. Mas lembrando que só me serve com estas características.


Quero realizar um desejo da minha esposa, que no momento, está querendo sair pelas ruas de Pau dos Ferros, em uma carruagem puxada por uma dupla de cavalos preto, imitando a rainha Elizabeth I. Já tenho um cavalo com estas mesmas características, por essa razão, não adianta ninguém me apresentar cavalos diferentes. Compro-o com preço além do oferecido no mercado. Assinado: Paulo Galvão Filho)".

Dias depois, o suposto fazendeiro recebeu informações da rádio, que um senhor de nome Bertoldo, no Sítio Piquiri, tinha um cavalo com essas mesmas características. De imediato, João Teotônio abalou-se para o sítio indicado, na intenção de saber se era o seu cavalo.  Ao chegar, ao longe, avistou o animal, e sem dúvida, aquele cavalo era o seu. E entre uma árvore e outra, foi chegando mais perto.

Virando-se para  o homem que o acompanhava, e que naquele momento, era o dono do cavalo, disse-lhe:

tudocavalos.blogspot.com


- Senhor, aquele cavalo é o meu.

- Não senhor! Aquele cavalo eu o comprei na semana passada - disse-lhe o comerciante de cavalos.

 - Justamente. Ele foi roubado na semana passada. E vou provar ao senhor, que é o meu cavalo. Eu o chamo de Star Black. Vou me esconder atrás desta aroeira, e vou o chamar. O senhor vai ver que ele vai ficar me procurando. Mas se esconda também - dizia o suposto fazendeiro.

Ali, esconderam-se entre as árvores, e João Teotônio fez:

- Star Black!

Ouvindo a voz do seu dono, o cavalo virou-se em direção a eles, e lá ficou impaciente o procurando, e talvez se perguntando: "Quem me chamou? Terá sido o meu dono? Ou eu estou sonhando?

http://genuardis.net

Voltando-se para o  comprador de cavalos, João Teotônio disse-lhe:

- Eu não sou fazendeiro, apenas me apresentei no aviso, pois eu queria recuperar o meu cavalo que já o considerava perdido. Este é a minha vida. Eu vou me aparecer, e o senhor vai ver que ele vai correr em minha direção.

Quando o João Teotônio saiu detrás da árvore, o cavalo fez carreira em sua direção.

 perissodactilos-mamiferos.blogspot.com

Ao chegar, relinchou, deitou-se, em seguida, levantou-se, e pôs as  patas para o ar, e pôs-se a fuçá-lo com o nariz, como se estivesse dizendo: "leva-me para casa, estou com uma saudade imensa dos meus amigos, das ovelhas, dos porcos..., preciso revê-los, aqui já apanhei, mudaram meu nome para "Pelé", aqui não conheço ninguém, sou tratado como cavalo, e em tão poucos dias nesta fazenda, me sinto socado dentro de um verdadeiro inferno. Eu já imaginava que poderia ser vendido para o abate. Nunca mais tomei um banho, e tenho me alimentado muito mal. Leva-me! Leva-me para nossa residência! Lá é o meu lugar".

Satisfeito por ter achado o seu amado cavalho, Teotônio olhou com um sorriso bem aberto, perguntando ao comprador de cavalos

- O senhor ainda tem dúvidas que este cavalo não é  meu?

- Não. O que o cavalo fez, ficou mais do que provado que é seu! Ponha sela e tudo de direito e o leve em sua companhia. Não tenho mais dúvida.

- Eu não quero saber a quem o senhor o comprou, dizia João Teotônio,  quero apenas levá-lo de volta para minha casa. Ele é tratado como um filho, coisa que na minha casa, nunca nasceu.

Minhas Simples Histórias
  
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domingo, 12 de maio de 2013

ROUBAM DE TODO JEITO

Por: José Mendes Pereira
 

Na década de 40,  para quem não dispunha de recursos, as dificuldades eram assustadoras, onde a maioria dos moradores de sítios vivia trabalhando com exclusividade para o seu patrão, no intuito de adquirir o pão de cada dia, como diz o sertanejo.

Pedro Nél Pereira

No ano de 1941, do século passado, o meu pai Pedro Nél Pereira ainda vivia sobre as regras do meu avô, e logo que se casou,  continuou morando nas terras de
Chico Duarte - Fazendeiro

Francisco Duarte, conhecido por Chico Duarte, o legítimo pai de Manoel Duarte, o homem que no dia 13 de junho de 1927, conseguiu balear em Mossoró o afamado e perigoso  cangaceiro Jararaca, no momento da tentativa de invasão à cidade, comandada por Lampião.

Lampião

Posteriormente Chico Duarte faleceu, e a sua enorme propriedade foi dividida com os herdeiros, sendo que o meu pai passou a ser morador de Manoel Duarte, mas permanecendo na mesma casa em que morava.

Manoel Duarte - baleou o cangaceiro Jararaca

Os tempos foram se passando e com as suas economias meu pai comprou uma parte da herança de Luiz Duarte, vulgarmente chamado Lili Duarte, irmão de Manoel Duarte. 

Nesta propriedade o meu pai dedicou-se por completo à  agricultura, e uma criação de bodes, ovelhas, mais meia dúzia de gado.

Manoel Louredo um senhor que morava às margens do rio Mossoró, sentindo-se sem condições de dar de comer à sua numerosa família, pediu ao meu pai que o deixasse tirar lenha na sua propriedade, pois no momento as necessidades em sua casa eram de lástimas, e que tirando lenha, venderia pelas ruas de Mossoró, para comprar o necessário para sua família. 

Meu pai, piedoso, e ciente do que havia passado em terras alheias, concedeu-lhe o pedido, mas lhe dizendo que cortasse só as árvores   mortas,  e as que estavam vivas não as derrubasse. 

Pedidos feitos, pedidos cumpridos de ambas as partes.


Duas vezes por semana, mais ou menos, às seis horas da manhã, Manoel Louredo passava na residência do meu pai; tomava uma xícara de café, e se mandava para o mato. À tardinha ele estava de volta com a carroça lotada de madeira seca. Tomava mais um cafezinho e tangia o animal em busca de Mossoró. Essa atividade de Manoel Louredo durou mais de três meses, até que certa tarde ele foi flagrado levando cabras entre à lenha.

O que ele fazia?


A criação costumava ruminar nas imediações onde ele tirava a lenha. Ali, ele deu início a viciá-la com milho e pedaços de pão seco de padaria. Pegava um animal, o anestesiava, colocava sob a lenha, protegido por toros atravessados, como se fosse um banco, para não prensar o animal. Na frente e na parte traseira da carroça enchia com pequenos pedaços de lenha, para dar impressão que os toros eram diretos, isto é, de uma ponta a outra. 

Certo dia pegara uma cabra acompanhada de um cabrito. Anestesiou-a, e o pouco que sobrara na seringa, injetou no cabrito. Arrumou-os bem direitinho sobre o lastro da carroça, cuidadosamente colocou os toros por cima dos animais, e deu partida para ir embora. 

Como do costume, passou na casa do meu pai; tomou um cafezinho, e quando se preparava para partir em direção a sua casa, o cabrito acordou do sono e tome berro entre a lenha. 

- Mas o que significa isso, seu Manoel Louredo? – perguntou-lhe meu pai. 

- Não sei! Não sei! – respondeu ele timidamente e já com as pernas tremendo. 

Logo o meu pai esvaziou a carroça, e lá estava o roubo do seu Louredo. A cabra gozava de um enorme sono, e o cabrito estava se recuperando da anestesia. Apenas cambaleava entre a lenha. 

- Interessante, seu Louredo! Eu tentando lhe ajudar. O senhor está roubando as minhas cabrinhas...,  o senhor retire a lenha de cima da carroça e a arrume aí,... os viventes o senhor os leve para sua casa. 

- Mas não são meus, seu Pedro! - disse ele em tom de exclamação. 

- E de quem são, seu Louredo? – perguntou-lhe meu pai. 

- São do senhor, seu Pedro! 

- Eram meus, realmente..., mas a partir da hora em que o senhor os colocou sobre sua carroça, que eu não os havia lhe dado, já passaram a ser roubo. E aqui eu não costumo esconder roubo de ninguém. Nem meu se eu roubasse. O senhor vá embora e nunca mais ponha os seus pés na minha propriedade. Mas tem que levar o seu roubo. 

Seu Louredo foi obrigado a levá-los, já que o meu pai não os queria mais em suas terras. 

Alguns vizinhos presentes queriam que o meu pai o levasse até a delegacia, em Mossoró. Mas ele os convenceu que cadeia não resolve mal costume de ninguém. Quem tem força para acabar de uma vez por toda esse ridículo costume, é o larápio, que crie vergonha e não mexa mais em nada de ninguém. 

Seu Louredo morreu de velho quando morava nas imediações da Ilha de Santa Luzia, bem próximo ao centro da cidade de Mossoró. Nunca mais ninguém ouviu falar de outros furtos praticados pelo velho Louredo. 

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