sábado, 22 de junho de 2013

Seu Galdino, a onça e o mel.

Por: José Mendes Pereira

- Compadre Galdino, a sua novilha já pariu? – perguntou seu Leodoro sentado sobre uma cocheira no estábulo, enquanto fabricava um cigarro de fumo bravo.

- Ainda não, compadre. Ainda não. E eu não estou querendo soltá-la no pasto, para que eu possa acompanhar o seu parto de perto. E eu tenho medo que as onças comam o bezerro quando nascer. Ela está com um ubre que faz gosto de ver. E me parece que vai ser uma boa vaca leiteira.

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- Foi à caça hoje, compadre Galdino?

- Fui. Mas não foi totalmente uma caça. Apenas eu sabia onde tinha uma colmeia de abelhas italianas, e como aqui em casa já estava quase sem mel, eu fui obrigado a ir tirá-la.

 
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- Onde foi que o senhor encontrou esta colmeia?

- No Riacho do Pai Antonio – dizia seu Galdino apontando a direção.

- A colmeia estava gorda, compadre Galdino?

- Não tão gorda assim, pois eu esperava mais... Mas ainda me rendeu uma lata de mel, aliás, mel e cera.

- É, compadre, nesse período elas não estão tão gordas. Só quando chegar a primavera, período das flores e dos frutos.

- Mas compadre, eu acho que Deus sempre me acompanha em minhas andanças.

- Sim senhor! – fez seu Leodoro.

- Assim que terminei o trabalho, isto é, da tirada do mel, eu não quis mais demorar pelas caatingas. Lá no Riacho do Pai Antonio, o senhor conhece muito bem aquele baixio... eu estava na barreira, na parte alta, pelo lado de lá, tentando adquirir fôlego para enfrentar a viagem para casa. Fiz um cigarro e quando o levei à boca para acendê-lo, fui surpreendido por uma onça vermelha.

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- Uma onça vermelha compadre, nessa mata?! – atalhou seu Leodoro se admirando.

- Sim senhor! Ela estava trepada em uma árvore que se eu não tivesse levantado a vista, ela tinha me pegado e me estraçalhado de uma só abocanhada. Ela estava bem pertinho de mim, com os olhos aboticados me observando. De arma eu só tinha meu facão. Tomei posição para enfrentá-la, mas tive medo, porque ela poderia tomar da minha mão o meu facão só com uma tapa. Mas veja o que passou por cima de mim...

- O que compadre, passou diante do senhor? - interrompei Leodoro.


- Uma macaca, compadre! Uma macaca prego com um filhote sobre às costas. Ela vinha dependurada em um cipó. E quando se aproximou de mim, soltou o cipó, e com o impulso do seu próprio corpo, caiu do outro lado do riacho. Mas antes de soltar o cipó, eu ouvi uma voz que dizia assim: "-Salve-se, seu Galdino! Salve-se! Dependura-se no cipó e passe para o outro lado do córrego!"

- A macaca falou, compadre? – Quis duvidar seu Leodoro.

- Se não foi ela compadre, foi Deus! E eu que não sou besta, agarrei o cipó e me mandei dependurado nele, e só o soltei quando eu já estava do lado de cá com os pés em terra firme.

- Já vi compadre Galdino, o senhor tem razão em dizer que Deus lhe protege. Acontecer desta macaca passar dependurada no cipó, e soltá-lo para o senhor se salvar das garras da onça. Só pode ser milagre. Não é isso mesmo, compadre?

- E apois, compadre! – confirmou seu Galdino  se gabando.

- Nesse momento que o senhor passou pro outro lado do riacho perdeu o mel, mas ganhou a vida. - quis saber seu Leodoro,

- Quem lhe disse que eu perdi o mel, compadre Leodoro?

- O senhor voltou pro outro lado do riacho  para apanhar o mel, diante da onça que com certeza ainda estava lá? 

- Não senhor! O cipó que a macaca havia deixado para eu passar dependurado nele pro outro lado do córrego, tinha um gancho no final da ponta dele, e no momento em que eu o agarrei,  passei sobre a lata do mel, o gancho enganchou no arame da lata, e se mandamos nós dois juntos, isto é, eu e a lata do mel.

- O senhor é guiado por Deus mesmo! Ah, se eu tivesse essa mesma sorte que o senhor tem, compadre Galdino!

- Graças ao meu bom Deus, compadre Leodoro. Se não fosse aquela macaca de me aparecer naquele momento, hoje eu seria um finado naquelas matas do Pai Antonio! Sim, senhor!!!

- Vou embora, compadre Galdino. A Jestrude é muito medrosa e está só..., até mais tarde, compadre.

- Até, compadre Leodoro! Vai-te corno! Dizia seu Galdino consigo mesmo. A Jestrude não tem medo de onça. Ela tem medo é de você, sua peste. Um homem ignorante que nem falar sabe direito!

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Autor:
José Mendes Pereira

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 Ela estava trepada em uma árvore, que se eu não tivesse levantado a vista, ela tinha me pegado e me estraçalhado de uma só abocanhada. 

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