sábado, 24 de maio de 2014

Café. O ouro negro em grãos

Por José Mendes Pereira

Nas décadas de 50 e 60, e estendendo-se até o início da década de 70, café era considerado o "ouro negro em grãos", devido o seu alto custo, talvez pela redução da colheita. Como o preço era altíssimo, muitos proprietários de caminhões enganavam o governo trazendo o produto para o Nordeste sem o pagamento dos impostos, a chamada venda contrabanda. 

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Na década de 60, mais ou menos no início desta, o meu pai ainda morava em terras alheias, mas não era vaqueiro do fazendeiro, apenas plantava, criava seus animais sem nenhum compromisso com o proprietário. Naquela época transportar café sem o pagamento de impostos, para muitos era um bom negócio, e assim traziam café pelas rotas que não passavam pelas alfândegas.

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Um senhor que não tinha nenhum vínculo com a propriedade, mesmo assim ludibriou o fazendeiro para guardar feijão, milho, arroz, farinha... em um dos seus armazéns, lugar onde era batida as palhas das carnaubeiras para a extração do pó, e neste período, o armazém estava vazio, ainda não havia iniciado o corte de palhas das carnaubeiras.

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Ciente de que seria mesmo legumes o proprietário aceitou a solicitação, enviando ao meu pai a autorização da entrega da chave do armazém ao homem, para que ele armazenasse seus legumes. Mas o certo é que o homem não guardava legumes, e sim, trazia café contrabandeado, e o guardava no armazém, que geralmente chegava altas horas da noite, com o seu caminhão carregado com o produto ilegal, acompanhado de alguns ajudantes para a descarga.

Assim que o meu pai descobriu que não se tratava de feijão, milho..., e sim de sacas e mais sacas de café, não gostando daquela arrumação,  e não querendo contar ao proprietário o que o homem estava escondendo em seu armazém, e temendo ser preso por estar escondendo a mercadoria ilegal, apavorou-se, resolveu sair da propriedade. Alguns vizinhos até o alertaram que ele estava correndo o risco de ser chamado à justiça, para prestar depoimento de quem era aquele produto.

O meu pai estava preocupado, e de imediato conversou com minha mãe, sobre uma possível compra de uma propriedade, só assim se livraria daquilo que o  incomodava no momento, já que ele não era homem de se aproveitar do que não era dele. E de imediato, dirigiu-se a minha mãe dizendo-lhe:

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- Dona Antonia (como o meu a chamava), não podemos mais viver aqui. Descobri que o homem não está guardando no armazém cereais, e sim café. E eu não vou ficar escondendo roubos de ninguém. A solução será nós procurarmos outra propriedade para morarmos, ou desfazermos dos nossos animais para comprarmos nem que seja uma linguinha de terra.

Se o meu pai estava preocupado, igualmente minha mãe, que muito o incentivou a negociação da terra dizendo-lhe: 

- Pedro, nós precisamos sair daqui o quanto antes. Não é justo que você venha pagar um preço caro por ilegalidade dos outros.

O meu pai respondeu-lhe que concordava. E a partir daí,  ficou desesperado. Precisava sair o quanto antes dali. Nunca fora preso, nunca fora chamado em posta de delegacias, e agora estava sujeito a visitar um delegado, uma  casa que prende...


 Manoel Duarte - irmão de Lili Duarte

Mas para tudo há um jeito. Por sorte, Luiz Duarte, irmão de Manoel Duarte, o matador do cangaceiro Colchete, tinha duas propriedades. A primeira herdada quando a  sua mãe Inácia Vicência Duarte falecera.

 Inácia Vicência Duarte

E a segunda recebera de herança do seu pai Francisco Duarte Ferreira, um dos maiores latifundiários de terras ao lado leste da cidade de Mossoró. E como o Lili Duarte não precisava de duas terras na mesma localidade (Barrinha), ele resolveu por uma delas à venda.

Francisco Duarte - o fazendeiro Chico Duarte

Assim que o meu pai tomou conhecimento da futura venda da propriedade, abalou-se até Mossoró para saber o preço, e posteriormente venderia os seus estimados e bem zelados animais para a compra. Negociado a terra, meu pai vendeu todo gado, e um monte de cabras e bodes, só no intuito de sair o mais rápido possível daquele armadilha. 

O certo é que ele conseguiu comprar 1 légua de terra na década de 60. No dia 10 de Maio de 2011 o meu pai despediu-se do nosso planeta, e a pequena propriedade que deixou, ainda continua em nosso poder, sem que nenhum de nós tenha pensado vendê-la.


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